quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma amizade verdadeira



No final deste vídeo, após as declarações de Lula na entrevista coletiva, um trecho inédito, com uma das últimas visitas do presidente Lula ao seu amigo e vice-presidente José Alencar. Lula dizia que ambos subiram juntos a rampa do Planalto e desceriam juntos, após passar a faixa presidencial para Dilma.

Lula diz:

- Não há hipótese de haver uma amizade mais forte...

Trajetória de José Alencar


De:

Trajetória de José Alencar

O boletim divulgado no fim da manhã desta terça-feira 29 informava que o ex-vice-presidente apresentava um quadro de oclusão (obstrução) intestinal e peritonite (inflamação do peritônio, uma membrana que reveste a cavidade abdominal), em condições críticas. Raul Cutait, médico integrante da equipe que cuidava de Alencar, havia dito que o tratamento estava sendo feito à base de medicamento para aliviar as dores. “Não tem mais condições de tratamento. Estamos dando suporte para ele não sofrer”, afirmou.

Com roupa de hospital, deitado numa maca, envolto por aparelhos e sempre com alguma personalidade do universo político ao lado. Essa é a lembrança mais marcante dos últimos dias de vida do ex-vice-presidente José Alencar. Seu delicado histórico médico sobressaiu sua trajetória profissional. Não é para menos, desde 2000, lutava contra um câncer na região abdominal pelo qual passou por inúmeras cirurgias e até tratamento experimental nos Estados Unidos.

Mas quem foi o homem de negócios que da pequena Itamuri, em Minas Gerais, ocupou um dos cargos mais importantes da política?

José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro de 1931, num povoado à margem do rio Glória, chamado Itamuri, município de Muriaé, Minas Gerais, é o décimo primeiro descendente do casal Antonio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, de um total de 15 filhos. Cedo, aos sete anos, já ensaiava os primeiros passos para os negócios atrás do balcão da loja do pai. Aos 14 anos, decidiu que era hora de ir mais longe. E em Muriaé, ainda no interior de Minas, foi trabalhar numa loja de tecidos. Em 1948, Alencar mudou-se para Caratinga onde trabalhou com vendedor.

De vendedor a empresário

Aos 18, com a ajuda do irmão mais velho Geraldo Gomes da Silva, depois de ser emancipado pelo pai, abriu as portas de sua primeira empresa: “A Queimadeira”, em Caratinga.

Ele chegou a morar na própria loja, “atrás da prateleira”, e comer de marmita fazia parte do esforço para baixar os custos e tornar competitiva a lojinha que vendia quase de tudo: tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas, armarinhos, etc.

Pouco tempo depois, aos 20, casou-se com Mariza Gomes da Silva, com quem teve duas filhas Maria da Graça e Patrícia e um filho Josué, que, atualmente, controla as empresas do pai.

Com a morte do irmão Geraldo, Alencar é chamado para assumir os negócios que o mais velho havia iniciado em Ubá. A empresa era a União dos Cometas, de Geraldo Gomes & Cia. Com a reestruturação societária, em homenagem ao principal fundador, adotou a razão social Geraldo Gomes da Silva, Tecidos S.A.

Em 1963, José Alencar construiu a Cia. Industrial de Roupas União dos Cometas, que mais tarde ganharia outro nome, Wembley Roupas S.A.

Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, da área de beneficiamento de algodão – fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas, que hoje é uma das maiores empresas do setor têxtil. Com 15 fábricas no Brasil, cinco nos Estados Unidos, uma na Argentina e uma no México, emprega mais de 15 mil trabalhadores.

De empresário a vice-presidente

José Alencar quis mais e em 1994 candidatou-se a deputado estadual, ficando em terceiro lugar com 10,71% dos votos válidos. Esse era apenas o começo de sua carreira política. Depois de sua estreia no meio político, Alencar candidatou-se, em 1998, a senador, obtendo quase 3 milhões de votos. Foi durante esse mandato que defendeu o empresariado brasileiro e fez duras críticas ao governo da época pela não realização das reformas política e econômica.

Mas um cargo mais alto ainda estava por vir e em 2000, ao comemorar os 50 anos de sua carreira como empresário, numa celebração com a presença de familiares, figuras políticas entre governadores, líderes de partidos, prefeitos e ministros, seu discurso encantaria uma das mais emblemáticas personalidades do cenário político brasileiro, o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, ainda não havia sido confirmada sua participação, pela quarta vez, como candidato às eleições para a presidência em 2002, mas saiu daquela festa já sabendo quem era seu vice.

Lula não resistiu à figura lutadora, cativante e com espírito nacionalista, que construiu um império, e agora estava no topo do mundo empresarial. Um homem chave para dialogar com o setor empresarial ao lado do governo petista.

Mesmo sendo um empresário milionário, Alencar sempre buscou manter sua simplicidade, e aceitou a missão de ser vice do metalúrgico para junto promoverem o desenvolvimento do Brasil, principalmente nas áreas sociais, que mais marcaram o governo Lula.

Muito disputado por sua desenvoltura política, Alencar foi assediado por três partidos: o PTB, PSD, mas acabou se desfiliando do PMDB para ingressar no PL que depois mudou o nome para PRB.

Antes já havia sido presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais e diretor da Associação Comercial de Minas, além da Câmara de Dirigentes Lojista de Belo Horizonte. No governo Lula, já como vice-presidente, em 2002, se tornou um dos interlocutores do governo com o setor empresarial, como era esperado. Uma aliança partidária histórica, das mais difíceis já realizadas, entre dois partidos com ideologias tão diferentes.

Mas o senador Eduardo Suplicy tratou de citar José Alencar, num momento de saudação da aliança, como um empresário de visão social, que emprega 15 mil pessoas. “Juntos, [PT e PL] podem fazer a justiça social que este governo, o governo de Fernando Henrique Cardoso, não fez”, disse Suplicy em junho daquele ano.

Alencar e o câncer

Apesar de ter descoberto o câncer em 2000, José Alencar resistiu aos compromissos de vice-presidente. Em sua longa batalha contra o câncer, submeteu-se a um tratamento experimental nos Estados Unidos, com resultado inconclusivo.

No final de seu mandato como vice, em 2010, sua saúde estava delicada, sendo necessário inclusive a interrupção do tratamento contra o câncer. Desde então, o estado de saúde de Alencar começou a se agravar.

Em janeiro deste ano ele voltou a ser internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Sírio-Libanês com perfurações no intestino, mas recebeu alta para ser homenageado com a comenda de Cidadão Paulistano no dia 25, data do aniversário da cidade.

Ele recebeu a Medalha 25 de Janeiro entregue pela presidenta Dilma Rousseff que, no discurso, destacou que participava da cerimônia como Presidenta da República, mas sobretudo como cidadã brasileira “para homenagear uma pessoa de tão profunda dimensão humana que todo o nosso povo aprendeu a respeitar, admirar e amar sem limites [...]nosso eterno vice-presidente da República, José Alencar”, afirmou. Nesse dia, integrantes de vários partidos, tanto de oposição quanto da situação, como o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) deixaram de lado as diferenças ideológicas para apertar as mãos do ex-vice.

Dentre as inúmeras visitas que recebeu enquanto internado, Alencar sempre fazia alguma declaração que repercutia na imprensa. Uma delas, em dezembro de 2010, Alencar reclamou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a alta dos juros. Algo recorrente em seu mandato.

Com o jornalista Ricardo Kotscho, em fevereiro deste ano, falou sobre a aposentadoria do jogador Ronaldo. Ao lado do deputado federal Albano Franco (PSDB-SE), chegou a dizer que estava “preparado para morrer”, mas que pretende “viver até quando for digno”. Em entrevista a Jô Soares no ano passado, José Alencar repetiu mais uma vez a frase que sempre dizia: “Se Deus quiser me levar, ele não precisa do câncer para isso. E se ele não quiser que eu vá, não há câncer que me leve”. O homem resistiu bravamente, e todos os brasileiros foram testemunhas disso.

Matéria originalmente publicada no sítio da revista CartaCapital

segunda-feira, 28 de março de 2011

Brasil vence EUA em disputa na OMC sobre suco de laranja

A Organização Mundial do Comércio (OMC) se posicionou a favor do Brasil na ação que contesta as medidas antidumping aplicadas pelos Estados Unidos na importação de suco de laranja.

O comitê de arbitragem oficializou a sua posição de que as medidas adotadas pelos americanos são incompatíveis com as normas internacionais. A principal queixa brasileira é contra a metodologia conhecida como “zeroing” ou zeramento.

Por esse sistema, o governo ignora margens de dumping negativas (vendas acima do valor normal) nos cálculos totais e as contabiliza como zero. Na outra ponta, serão contabilizados apenas os casos com margens de dumping positivas (vendas abaixo do valor normal).

Essa situação contribui para que a oscilação dos preços com tempo seja considerada como comércio desleal. A OMC, contudo, avaliou o zeramento como ilegal. Os Estados Unidos terão entre 20 e 60 dias para se adequar às normas internacionais de comércio.

“O governo brasileiro espera que os Estados Unidos deem cumprimento às determinações do painel no menor prazo possível, em sinal claro de respeito às disciplinas multilaterais de comércio”, disse o Itamaraty em nota.

Além do Brasil, outros nove países (Canadá, União Européia, Japão, Equador, Tailândia, México, Coreia, Vietnã e China) já abriram contenciosos contra os Estados Unidos na OMC a respeito

Por Valor Online

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Brasil de Lula

Destaque da capa do novo ""London Review of Books", o historiador Perry Anderson publica em dez páginas o ensaio "Lula's Brazil". Abre dizendo que, "contra o ditado inglês, nem todas as vidas políticas terminam em fracasso", mas é fato "raro":"Hoje, há um só governante no mundo que pode reivindicar a realização, o ex-operário que em janeiro deixou de ser presidente do Brasil, com popularidade de 80%. Por qualquer critério, Luiz Inácio da Silva é o político mais bem-sucedido de seu tempo."Atribui ao "conjunto excepcional de dons pessoais, uma mistura de calorosa sensibilidade social e frio cálculo político". Mas "nunca foi só triunfo pessoal" -citando "a extraordinária insurgência sindical que criou o primeiro -e único- partido político moderno do Brasil", uma "organização de massa".O historiador marxista afirma que, no Brasil, "se a melhoria passiva virasse intervenção ativa, a história teria outro fim".Coluna Nelson de Sá

Erros e micos da tv II




quinta-feira, 24 de março de 2011

Globo restringe uso de mídias sociais em comerciais

Existe alguma marca na história que obteve mais mídia gratuita que o Twitter ou o Facebook? Todas as vezes que ligamos a TV, se tratando de Brasil, alguém está divulgando um perfil para interagir com o público, e a cada início de bloco algum apresentador menciona a marca Twitter. Isso acontece até no Fantástico, o horário mais caro da TV brasileira.

As mídias sociais se mostram uma força inexorável e por isso cada vez mais as empresas se adequam a essa nova realidade, porém, esse interesse das emissoras de TV vem gerando outro fenômeno: o da mídia espontânea em uma escala nunca visto antes.

Eu acho ótimo que a TV fale do Twitter e do Facebook, isso certamente vem alavancando o crescimento das mídias sociais no Brasil, porém, não podemos esquecer que se tratam de empresas que geram a maior parte de suas receitas através de publicidade, assim como as redes de televisão.

A Globo já deu sinais claros de que as mídias sociais são importantes para sua estratégia de comunicação, porém, em uma medida paradoxal a emissora está restringindo o uso das mesmas em seus espaços publicitários. Segundo o blog eutedisse, a Rede Globo encaminhou, através de suas afiliadas, uma comunicação para o mercado publicitário na qual não podem mais inserir o nome das redes sociais em seus comerciais, ou seja, se forem mencionadas as marcas Twitter ou Facebook, por exemplo, o anunciante terá de pagar por multiplicidade.

De acordo com o site AdNews, a assessoria da emissora esclareceu que não há qualquer tipo de censura às redes sociais. O fato é que muitas empresas passaram a desenvolver ações voltadas a essa plataforma, e a cada vez que palavras como “Twitter” ou “Facebook” são citadas em algum comercial, a empresa que comprou o espaço passa a divulgar, além da sua marca, a marca desses sites. É aí que está o conceito de multiplicidade. Quando isso acontece, a emissora aciona o contratante e expõe a situação. Caso ele aceite continuar com a veiculação, uma taxa de 30% é acrescentada ao preço original.

Para mim, essas barreiras impostas dificultam as ações integradas e podem afugentar os anunciantes, se tornando um caminho perigoso para a emissora. E pra você? o que acha dessa medida?

Por Ricardo de Paula, publicado no Mídias Sociais

quarta-feira, 23 de março de 2011

O silêncio como forma de censura

Em debate recente cujo tema foi "Censura e liberdade de expressão: por uma outra mídia", promovido pela Secretaria de Audiovisual do Mininstério da Cultura e pelo programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense, realizado no Rio de Janeiro, tentei argumentar que, contrariamente ao "eixo discursivo" dominante na grande mídia, o Estado não é o único censor e, muitas vezes, nem sequer o mais importante. Existem várias formas de censura e, por óbvio, diferentes censores.

Estamos nos referindo à censura da palavra, da expressão que é um direito humano fundamental da pessoa, do indivíduo, do cidadão. Esta censura é anterior à existência não só de Gutenberg – vale dizer, da possibilidade de se imprimir – como é muito anterior à existência da instituição que passou a ser conhecida como "imprensa" e hoje chamamos de "mídia".

A "cultura do silêncio"

No Brasil, onde a "imprensa" tardia chegou somente no século 19, lembrei-me de trecho conhecido do Padre Antonio Vieira que, em sermão pronunciado na Bahia, ainda em 1640, afirmava:

"Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra – infans, infante – quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (...) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão".

Apoiado neste diagnóstico precoce de Vieira, o educador Paulo Freire, em vários de seus escritos, fala da nossa herança colonial de "mutismo" e mais tarde da "cultura do silêncio" dos oprimidos, impedidos de ter voz, mergulhados na submissão pelo silêncio (cf. Venício A. de Lima; Comunicação e Cultura: as idéias de Paulo Freire; Paz e Terra, 2ª. ed., 1984).

Não seria essa uma forma histórica de censura na medida em que a "cultura do silêncio" nega a boa parte da população sua liberdade fundamental de palavra, de se expressar? E quem seria, neste caso, o censor?

No Brasil colonial, certamente o Estado português e os muitos aliados que se beneficiavam da opressão aos povos nativos e aos escravos africanos. A própria sociedade era também "censora", na medida em que convivia culturalmente com a exclusão de vários segmentos de qualquer participação civil. Por exemplo, as mulheres.

Silêncio como censura

Nada disso é novidade, mas certamente ajudará, sobretudo aos jovens de uma sociedade onde nascem novas formas interativas de comunicação – as TICs – a compreender a verdadeira dimensão de conceitos como censura e liberdade de expressão.

Nessa nova sociedade-rede, uma forma disfarçada de censura é o silêncio da grande mídia em relação a determinados temas. Considerando que a grande mídia ainda é a principal mediadora e construtora dos espaços públicos, um tema deliberadamente omitido está sendo sonegado e excluído desse espaço, vale dizer, da possibilidade de fazer parte do conhecimento e do debate público.

Um exemplo recente dessa censura disfarçada foi o silêncio sobre as manifestações populares que mobilizaram centenas de milhares de pessoas por várias semanas em Madison, a capital do importante estado americano de Wisconsin (ver aqui matéria do New York Times).

Ao mesmo tempo em que sociedades autoritárias explodem no Oriente Médio, fruto de mobilizações populares – com ampla, mas seletiva, cobertura da grande mídia ocidental –, trava-se na mais poderosa democracia do mundo a primeira de uma série anunciada de batalhas entre sindicatos de trabalhadores do serviço público e governos estaduais. Os próximos estados serão Ohio, Michigan, Iowa e Indiana.

Está em jogo não só o poder de barganha desses sindicatos, como o valor das aposentadorias e seus planos de saúde. Na verdade, a corda está arrebentando do lado dos trabalhadores e eles estão reagindo. Não se sabe até onde a resistência sindical conseguirá envolver e mobilizar também outros setores da sociedade que sofrem as conseqüências da crise econômica de 2008. E, menos ainda, quais conseqüências essas mobilizações poderão produzir não só nos EUA como em outros países.

Você leitor(a), conhece a cobertura que essas manifestações mereceram na grande mídia brasileira?

Censura x liberdade de expressão x liberdade de imprensa

A discussão de temas como censura, liberdade de expressão e liberdade de imprensa é sempre oportuna entre nós. O historiador Aloysio Castelo de Carvalho no seu A Rede da Democracia (NitPress/Editora da UFF, 2010) – onde fica demonstrado o conluio dos jornais O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil, unidos para derrubar o governo democrático de João Goulart, em 1964 – adverte:

"A liberdade de imprensa é um eixo discursivo dos jornais quando eles querem se valorizar como único canal de expressão da opinião pública".

As novas gerações precisam conhecer a história da censura no Brasil e incluir aí não só a censura exercida pelo Estado, mas outras formas de censura: aquela que vem de nossa herança colonial de "cultura do silêncio" e também a censura disfarçada exercida pelo silêncio deliberado em relação a certos temas, pratica rotineira na grande mídia.

Por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

A aposta errada de Kassab

Onde foi que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, errou, para saltar praticamente sozinho de um DEM em extinção? O primeiro grande erro talvez tenha sido o de subestimar o fator ideológico, na articulação de uma saída política para si mesmo, mas que pudesse catalisar também parcelas do DEM que tentam sobreviver ao efeito Lula sobre o eleitorado de baixa renda, principalmente nos Estados mais pobres. O segundo, o de superestimar o poder de atração de sua liderança, num partido de cobras criadas, acostumadas a articulações de bastidores e na arte da sobrevivência.

Errou também na tática para arregimentação dos desvalidos políticos do seu e de outros partidos, quando passou a publicizar reuniões supostamente secretas com dirigentes de partidos políticos das mais variadas colorações, e das quais "vazava" acirrado interesse pela sua adesão. Os balões de ensaio afunilaram na opção PSB, pela via de um Partido Democrático Brasileiro (PDB), também publicizado como uma legenda de ocasião, capaz de levar o grupo à adesão ao partido socialista sem o risco de incorrer nos rigores da lei de fidelidade partidária.

O caminho de Kassab seria lógico se não existisse uma hegemonia do grupo do governador Geraldo Alckmin no PSDB paulista, e se o ex-governador José Serra não tivesse sofrido tamanho desgaste interno com a segunda derrota numa disputa pelas eleições presidenciais. Kassab é Serra, simplesmente isso. A complicação que se armou a partir disso foi dada pelas urnas e pelos conflitos que Serra provocou, ou não soube evitar, durante a campanha eleitoral, com integrantes de seu partido e com os aliados do DEM.

O caminho do Kassab em direção ao PSDB, no entanto, foi obstruído por uma contingência regional - a hegemonia de Alckmin em São Paulo - que afeta o prefeito diretamente, e uma contingência nacional - a inegável conquista de espaço pelo senador Aécio Neves, talvez não ainda por mérito próprio, mas pelos conflitos internos irrompidos durante a campanha de Serra. Um Kassab cujo destino político naturalmente tenderia a uma incorporação ao PSDB, que teria resistências muito menores por parte do DEM nacional, acabou envolvido numa missão política de afastar o DEM "aecista" de um PSDB nacional cada vez mais "aecista", e de um PSDB paulista "alckmista" e, em consequência, também "aecista". Pode ter conseguido exatamente o contrário: aproximar ainda mais as lideranças demistas do PSDB de Aécio Neves. Se houver uma incorporação do DEM ao PSDB, agora, será um movimento em torno da liderança do ex-governador mineiro.

A ginástica feita por Kassab para viabilizar-se na política produziu tantos efeitos colaterais que dificilmente o favorecerão, nacionalmente ou regionalmente. Kassab prosperou junto ao eleitorado conservador, aliado a um PSDB que conquistava cada vez mais essa faixa do eleitorado. Venceu as eleições para a prefeitura no auge de popularidade de Serra, a quem sucedeu, como vice, na prefeitura, e de quem teve o apoio, como governador, quando disputou a reeleição para a prefeitura, em 2008.

Funcionou, todavia, como uma "sublegenda" serrista do PSDB, mais do que como uma liderança do DEM. O DEM paulista tem dificuldade de existir sem o PSDB, porque o partido de Alckmin é hegemônico no Estado e conta com a lealdade dos setores de classe média mais conservadores, com peso eleitoral importante. Serra, todavia, parece ter sido rapidamente varrido do mapa partidário do Estado após a sua derrota nas eleições presidenciais e a vitória de Alckmin para o governo do Estado.

Alckmin, que tinha a maioria dos diretórios do interior, mas não desfrutava nem de maioria, nem de prestígio, no diretório da capital, conseguiu movimentar-se rapidamente e hoje domina o partido em todo o Estado. Numa convenção nacional para escolher um candidato tucano para presidente, em 2014, seria voto certo para Aécio. Kassab, sem o padrinho Serra, perde o poder de rachar o PSDB paulistano, façanha que conseguiu em 2008, e não tem nenhum poder de negociação com o PSDB paulista, onde Alckmin reina sem concorrentes.

A "guinada" à esquerda, tentada na negociação de adesão ao PSB, com uma baldeação pelo PDB, é uma tentativa de conquistar outro eleitorado, na impossibilidade de concorrer com o PSDB pelos votos conservadores de São Paulo. Mas, nacionalmente, afugentou os integrantes de um partido que, embora tradicional, tem um conteúdo ideológico já solidificado e nenhuma vergonha de ser de direita. Em vez de ver o PDB como uma opção à extinção, os políticos demistas que poderiam fechar com Kassab passaram a vê-lo como um risco maior.

A senadora Kátia Abreu (TO), por exemplo, embora tenha sérios problemas políticos no seu Estado, é uma liderança conservadora importante, o que atraiu eleitorado correspondente. Uma pessoa com a biografia do ex-senador Marco Maciel (PE) também ficaria incomodado com o futuro anunciado para o PDB, o PSB, até porque é adversário local do presidente do partido socialista, o governador Eduardo Campos. Uma opção de adesão ao governo, ou ao socialismo, também não atrai um político com o passado do ex-senador Jorge Bornhausen (SC).

Pode parecer meio esquisito, mas é por estar na órbita de influência de Serra que Kassab achou que o caminho mais fácil era aderir a um partido da base governista, e de esquerda. Pensou paulista, quando o DEM apostava que despontaria como uma liderança nacional.

Por
Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor Econômico

Sobre a visita de Mr. Obama

Mr. Obama aterrisou no Brasil cheio de simpatia. Afinal, boa parte da população brasileira ainda não está informada de que o eleitorado americano foi vítima de um embuste, e a grande imprensa fez tudo a seu alcance para promover a simpatia do casal e o charme de Mrs. Michele.

A grande mídia não mediu esforços para encobrir a grave crise econômica e social que assola aquele grande país, omitir a manutenção da mesma política externa que levou os Estados Unidos ao atoleiro do Afeganistão e do Iraque, e encobrir o apoio do governo norte-americano aos governos ditatoriais da África do Norte e da Arábia.

Em resumo, fez de tudo para dourar a pílula do que deseja realmente Mr. Obama em sua viagem ao Brasil. E tem sido incapaz de mostrar sua afronta ao Brasil, tipo Bush filho, ao ordenar o bombardeamento da Líbia em seu primeiro dia de visita ao governo brasileiro.

Apesar de falar em paz e cooperação, Mr. Obama demonstrou que pratica guerra e imposição. Embora tenha dito ter apreço pela pretensão brasileira de participar do Conselho de Segurança da ONU, não avançou um til sequer na promessa vaga de continuar trabalhando com todos pela reforma daquele órgão multilateral. E não deu qualquer sinal de que afrouxará as barreiras à entrada dos produtos brasileiros no mercado estadonidense.

Em outras palavras, Mr. Obama esbanjou simpatia, tanto a própria quanto a fabricada, mas não se mostrou disposto a pagar nem um cafezinho. Isso não acontece por acaso. Já antes da catástrofe que assola o Japão, os Estados Unidos enfrentavam uma crescente dificuldade para colocar seus bônus do Tesouro, indispensáveis para financiar seus diferentes déficits e para salvar seus bancos da bancarrota.

O Japão interrompera a aquisição daqueles títulos, a China procurava outras formas de aplicar seus excedentes financeiros, os países árabes produtores de petróleo se resguardavam diante dos levantes populares, e até a Grã-Bretanha, fiel aliada dos EUA, se via obrigada a direcionar seus recursos financeiros para pagar a dívida pública. Diante desses movimentos, o FED já se via constrangido a comprar mais de 70% das emissões dos bônus de seu próprio Tesouro.

A tríplice catástrofe que se abateu sobre o povo japonês pressionará o governo do Japão a despejar seus recursos financeiros na reconstrução das regiões destruídas, na adoção de medidas radicais para substituir alimentos e outros bens contaminados pelas radiações nucleares, e na reativação da economia japonesa. Nessas condições, o Japão pode se transformar de grande comprador de bônus do Tesouro americano em vendedor desses bônus no mercado internacional. Combinada aos demais fatores que já afetavam o mercado desses títulos, a situação japonesa pode representar um golpe destruidor sobre o principal mecanismo utilizado pelos Estados Unidos para financiar a continuidade de sua economia.

Nessas condições, será muito difícil ao governo de Mr. Obama tratar adequadamente seus débitos internos e internacionais, manter suas taxas de juros no atual patamar próximo de zero, utilizar eficientemente a desvalorização do dólar como fator de elevação da competitividade de seus produtos e de reativação de sua economia, e resolver a favor dos Democratas a disputa fratricida que estão mantendo com os radicais Republicanos. Na verdade, o We Can de Mr. Obama está se tornando, cada vez mais, em We Cannot. Afinal, não é preciso ser um analista arguto para notar que nenhum de seus compromissos eleitorais foi cumprido.

Para agravar o quadro geral da crise norte-americana, a decisão do governo Obama de estimular seus aliados sauditas e de outros países árabes a intervir no Bahrein e reprimir as manifestações populares dos povos árabes por melhores condições de vida, reformas democráticas e soberania nacional, já representavam medidas perigosas que podiam tornar ainda mais caótica a situação das regiões do Norte da África e da Península Arábica, tanto do ponto de vista político, quanto social e econômica. O que, inevitavelmente, rebaterá desfavoravelmente sobre a crise norte-americana.

A decisão, em conjunto com a França, Inglaterra e Itália, de intervir nos negócios internos da Líbia, com pretextos idênticos aos utilizados no Afeganistão e no Iraque, pode agravar ainda mais, exponencialmente, todos os fatores de instabilidade e caos presentes no cenário mundial e no cenário interno americano, a começar pelo potencial fator de elevação do preço do petróleo, a principal fonte energética da economia dos Estados Unidos.

Mas podemos agregar a tudo isso outros fatores de crise. Os preços das demais commodities minerais e agrícolas devem continuar se elevando. O Japão terá grandes dificuldades para continuar abastecendo o mercado mundial de componentes eletrônicos vitais para o funcionando da economia global altamente informatizada. Haverá uma parada obrigatória, mesmo momentânea, para a revisão dos projetos de energia nuclear, agravando os problemas produtivos em países, como a França, que possuem fortes cadeias industriais voltadas para esse setor.

Talvez por isso, com a França tendo uma forte indústria bélica, o governo Sarkozi tenha se mostrado tão belicista em relação à Líbia. Supõe, como os antigos imperialistas, que a guerra pode ser um instrumento de reativação econômica. Nem se deu conta de que os custos astronômicos dos atuais equipamentos bélicos vão agravar ainda mais a crise financeira da zona do euro. E que os custos de reconstrução das áreas destruídas pesarão consideravelmente, seja sobre os orçamentos já em crise, seja sobre a posição política desses falcões.

Por tudo isso, talvez possamos afirmar que os Estados Unidos, assim como seus aliados europeus, não estão em condições de transformar simpatia em projetos positivos. Para comprovar isso, basta examinar a posição dos Estados Unidos diante da tríplice tragédia japonesa. Eles estão sem qualquer condição de contribuir com qualquer ajuda financeira ou com a abertura de seus mercados. Depois, vão reclamar da China que, segundo muitos analistas, é a única que se acha em condições de oferecer uma ajuda financeira real ao Japão e abrir seu mercado para a recuperação das empresas e da economia japonesa.

O mesmo em relação ao Brasil. Mr. Obama quer maior abertura para os produtos norte-americanos, sem reduzir em nada os entraves à entrada da carne, etanol, sucos, algodão e outros produtos brasileiros no mercado norte-americano. Também não quer equilibrar a balança comercial entre os dois países. Mas Mr. Obama ofereceu financiamentos de um bilhão de dólares, como se estivesse ofertando a maior fortuna do mundo.

A presidenta Dilma poderia ter dito a ele que o Brasil está financiando os Estados Unidos em cerca de 8 bilhões de dólares anuais, que é o saldo dos EUA no comércio com o Brasil. Também poderia ter dito que os chineses, apenas para a exploração do pré-sal, financiaram 10 bilhões de dólares. Talvez não o tenha feito, por educação. E também porque, afinal, mesmo não pagando nem o cafezinho, a simpatia do casal Obama é inegável.

Por
Valter Pomar, publicado no sítio da Agência Latinoamericana de Informação (Alai)

terça-feira, 22 de março de 2011

EUA querem invadir as redes sociais

A história poderia ter brotado de uma ficção sobre guerras cibernéticas, mas está a ponto de se tornar real. O Comando Central do Exército dos Estados Unidos (CentCom) prepara uma grande operação para manipular as redes sociais. Centenas de militares poderão ser mobilizados para intervir em ambientes como o Twitter e o Facebook, sempre que houver críticas ao papel de Washington no mundo.

Porém, omitirão suas identidades. Contarão com um software que multiplicará falsos perfis de usuários destas redes, e os transformará em “fantoches” eletrônicos – para usar uma expressão do londrino The Guardian, que apurou os fatos e os expôs na edição de quinta-feira (17/3). A operação fere as leis dos EUA. Será realizada graças a uma brecha legal, que não impede o exército de praticar manipulação contra internautas de outros países. Aparentemente, irá se desenvolver, num primeiro momento, no Oriente Médio. Nada impede, contudo, que seja voltada contra outros alvos.

Como boa parte dos ataques do Estado norte-americano aos direitos civis, a operação usa como pretexto a “guerra ao terror”. Tem nome orwelliano: Operation Earnest Voice (OEV), algo como Operação Voz Sincera. Sua existência foi revelada pela primeira vez em público no ano passado, num depoimento do general David Paetreus, então chefe do CentCom, ao comitê de Assuntos Militares do Senado norte-americano. Para defendê-la, ele afirmou que se tratava de um esforço para “conter a ideologia e propaganda extremistas”.

No mês passado, ao falar ao mesmo comitê, o sucessor de Paetreus, general James Mattis, admitiu objetivos mais vastos. Segundo ele, a OEV “abrange todas as atividades associadas à anulação da narrativa do inimigo, inclusive atuação na web e a destruição de capacidades derivadas de produtos na web”.

A pista permitiu que The Guardian desvendasse, ao menos em parte, a configuração verdadeira da OEV – que inclui detalhes espantosos. O jornal localizou, por exemplo, o contrato que o CentCom firmou com a Ntrepid, uma corporação de desenvolvimento de softwares baseada na Califórna. A empresa compromete-se a criar um “serviço online de gerenciamento de personagens”. Ele deve permitir que cada soldado maneje até dez identidades distintas, baseadas em qualquer parte do mundo.

Cada personagem falso deve ter um perfil convincente, uma história e detalhes pessoais. Baseados nos Estados Unidos, os manipuladores das identidades fake devem sentir-se seguros para agir “sem medo de ser descobertos por adversários sofisticados”. O próprio Guardian esclarece o que se pode pretender com tal desenho. “Soldados norte-americanos, atuando de modo intenso num único ponto, poderiam imiscuir-se em conversações online, produzindo um número ilimitado de mensagens coordenadas, posts em blogs, salas de chat e outras intervenções”.

Por ser uma óbvia intervenção do Estado (em particular dos militares) no espaço público, tal prática é vedada pela legislação norte-americana. Questionado a respeito pelo jornal, o porta-voz do CentCom, comandante Bill Speaks, defendeu-se. “Assegurou” que, para evitar ilegalidades, as manipulações seriam feitas em muitos idiomas, jamais em inglês…

Concebida para neutralizar um espaço de comunicação autônomo, onde o poder dos oligopólios da mídia não conseguiu se impor, a operação terá sucesso? Parece duvidoso. Primeiro, pelas próprias reações que a iniciativa tende a despertar. Especialistas ouvidos pelo Guardian compararam a iniciativa dos Estados Unidos “aos esforços da China para controlar e restringir o direito de expressão na internet”.

Na mesma edição do jornal, Jeff Jarvis, professor de jornalismo na Universidade da Cidade de Nova York, reagiu com um misto de ironia e lástima às revelações do The Guardian. Para ele, a iniciativa de Washington é tão bizarra quanto a de um spammer tosco. “É espantosamente estúpida, porque quase não há dúvidas de que os falsos perfis serão desmascarados”. O resultado será o contrário do pretendido: “desgaste, ao invés de fortalecimento da credibilidade dos Estados Unidos”.

Decepcionado com o envolvimento do governo Obama em projetos de tal nível (e na perseguição ao Wikileaks), Jarvis lembra: enquanto a Casa Branca apela para a conspiração e o segredo, em países como a Tunísia e o Egito “o movimento de libertação não parte de armas, espionagens ou subterfúgios, mas de algo muito mais forte: transparência, abertura e honestidade”.

Por Cauê Seigne Ameni, publicado no sítio Outras Palavras

segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama, Líbia e Japão

Conflito na Líbia, pesadelo nuclear no Japão, Obama no Brasil – com estes três eventos de primeira grandeza na pauta é compreensível que nossa mídia tenha optado por destacar a visita do primeiro presidente negro a ocupar a Casa Branca.

Apesar de alguns sucessos no esforço de controlar o superaquecimento dos reatores da central nuclear em Fukushima, a médio e longo prazo as notícias que chegam do Japão não são animadoras. A implantação da zona de exclusão aérea na Líbia pedida pela Liga Árabe e sancionada pelas Nações Unidas, embora seja quente, rende poucas imagens: jatos supersônicos levantando vôo ou nuvens de fumaça subindo de alvos distantes não são propriamente empolgantes.

O carismático Barack Obama acompanhado pela charmosa Michelle ao lado da presidente Dilma Rousseff aqui, entre nós – primeiro em Brasília e depois no Rio de Janeiro – contém todos os ingredientes humanos e políticos para se impor aos demais itens da agenda jornalística.

Conselho ampliado

A visita foi exaustivamente coberta, todas as ocorrências e fatos minuciosamente acompanhados, mas as avaliações e análises claudicaram. A hipótese de que o presidente de uma república democrática possa, num passe de mágica ou golpe de caneta, acabar com os subsídios aos seus agricultores passando por cima do Legislativo é de uma ingenuidade ímpar.

Outra elucubração que ocupou manchetes e extensas análises foi motivada pelo substantivo "apreço" utilizado por Obama na avaliação da pretensão brasileira de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Apreço foi um termo considerado insuficiente, o mesmo acontecendo com a designação do Brasil como mero "parceiro" enquanto a Índia tem o status de "aliada". Pura especulação jornalística para fazer barulho.

Jornalistas geralmente sabem quando especulam, mas geralmente se conformam com a especulação porque em política fatos concretos são raros. A ampliação do Conselho de Segurança da ONU não será decidida pelos Estados Unidos sozinho e nem se resumirá a um assento apenas. Tudo indica que os Cinco Grandes decidirão consensualmente uma ampliação significativa: de 15 para 20 ou 21 países de modo a incluir todos os continentes, alguns subcontinentes e privilegiar as maiores potências econômicas, o que significa a inclusão da Alemanha e dos dois Brics ainda de fora: Brasil e Índia.

Dedicação exclusiva

A decisão de Obama em manter a visita ao Brasil enquanto os EUA iniciavam a participação no confronto militar na Líbia é um dado relevante. Vale mais do que as sutilezas e conjecturas que só confundem o distinto público.

O mesmo se deu com a versão de que o ex-presidente Lula recusou participar do almoço em homenagem a Obama ao lado dos seus antecessores porque o convite não veio da Presidência, mas do Itamarati. Pura fantasia. Lula não foi porque faz política em regime full-time e está interessado em assumir-se como líder anti-ianque da América do Sul.

Por Alberto Dines no Observatório da Imprensa

domingo, 20 de março de 2011

Uma visita marcada por mais uma guerra

O senador Suplicy me ligou dizendo que não estava de acordo com uma mensagem que publiquei no twitter convocadando os cariocas a um domingo de praia ao invés de ir ao comício que o Obama deveria fazer na Cinelândia. Ele dizia que o Obama era o continuador dos sonhos do Martin Luther King. E se, de repente, depois de conversar com a Dilma, ele anunciasse a fim do bloqueio a Cuba no comício?

O Suplicy me perdoará se não for absolutamente textual – se ele quiser precisar seus argumentos, pode escrever que a Carta Maior publicará integralmente seu artigo. Mas estou seguro que esses eram os dois argumentos que ele me expos e eu, democraticamente, contra argumentei.

Disse que é verdade que Obama representou – ou, para alguns, anda representa – um polo progressista dentro dos EUA, contra a direita e a ultradireita. Mas mesmo lá dentro, apesar dos seus discursos contra os bancos, como causadores da crise, ele salvou os bancos, acreditando que eles salvariam os EUA, mas os bancos se salvaram a si mesmos e deixaram o país na recessão, com a elevada taxa de desemprego que ainda tem.

Mas, principalmente fora dos EUA – elemento inseparável para uma potência imperial -, sua politica continua exatamente a mesma do Bush, ele não cumpriu nenhuma das promessas que fez: nem terminou com o bloqueio a Cuba, nem saiu do Iraque, e agora promove uma nova guerra, contra a Líbia.

Uma vez realizada a visita, creio que a posição que defendi se justifica ainda mais. A marca da visita não está dada por nenhum pronunciamento ou acordo assinado aqui, mas pelo cenário do bombardeio da Líbia, com a sempre falsa justificativa de que fazem para defender os civis do país. Mesmo no plano do discurso, dos acordos e do seu itinerário, a visita foi decepcionante. Nos discursos, ele fez o mínimo possível de concessões: depois de ter apoiado expressamente a Índia para ingressar no Conselho de Segurança da ONU, fez apenas uma menção simpática ao Brasil – “apreço” -, longe do compromisso com o pais asiático. Os EUA não cumpriram com sua parte nos novos acordos comerciais e Obama tenta justificar a postura com a crise econômica, que dificultaria abrir o mercado dos EUA. Não havia nenhum sintoma de que anunciaria o fim do bloqueio a Cuba ou qualquer outra medida progressista, como seus pronunciamentos confirmaram.

Obama não trouxe o Ministro de Energia, como estava planejado, diminuindo as possibilidades de acordos nessa área. Rejeitou o convite para um jantar reservado com Dilma em Brasília, onde ficou apenas algumas horas, partindo rapidamente para o Rio. Aqui, fez programas familiares no jantar, na visita ao Corcovado e a Cidade de Deus. A suspensão do comício na Candelária – que tranquilizou o governo, que não via com bons olhos a operação – levou a um discurso no Teatro Municipal, onde houve mais seguranças, policiais e escoltas do que público.

Sua passagem – cujo aspecto mais importante foi o de que, pela primeira vez, um presidente empossado no Brasil é visitado por um presidente norteamericano, ao invés de ir visitá-lo – deixa uma imagem frágil, de pouca transcendência, de mais um presidente dos EUA que não somente não deixa um cenário de guerra – o Iraque – como prometido, como leva seu país, no momento da sua viagem, a mais uma.

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Por:
Emir Sader no Carta Maior

Erros e micos da tv




sábado, 19 de março de 2011

Arruda põe revista Veja sob suspeita

No começo da noite de quinta-feira, a versão digital da revista Veja publicou em seu site uma bombástica entrevista do governador cassado de Brasília, José Roberto Arruda, concedida enquanto ainda estava preso, em setembro do ano passado. O ex-governador acusa seus ex-aliados de estarem todos envolvidos no mesmo esquema criminoso que ele próprio.

Vários ex-aliados de Arruda citados – e acusados – por ele na entrevista que concedeu em pleno processo eleitoral, tais como José Agripino Maia (atual presidente do DEM) ou Rodrigo Maia (presidente do partido à época em que a entrevista foi concedida), entre outros demos e tucanos, reelegeram-se em 3 de outubro passado.

A pergunta mais imediata é sobre se teriam sido eleitos caso a Veja não tivesse escondido a entrevista do ex-governador de Brasília. E a suposição mais imediata é a de que a revista escondeu as acusações de Arruda para não atrapalhar a eleição de políticos que protege há muito. São conclusões inescapáveis.

Todavia, não se entende por que a Veja publicou a entrevista. Não teria sido mais fácil escondê-la? E como a revista pretende explicar por que ocultou acusações que poderiam ter impedido que vários dos demos e tucanos citados na entrevista fossem reeleitos?

Mas não é só isso. A ocultação da entrevista de Arruda pode ter atrapalhado as investigações sobre o “mensalão” de Brasília. A menos que as denúncias de Arruda à Veja também tenham sido feitas à polícia, o que é bem provável que tenha ocorrido. Ainda assim, resta a questão eleitoral.

A sociedade e a Justiça têm que discutir se ficam passivas diante de um meio de comunicação que publicou reportagens no período eleitoral acusando todo o governo Lula com base em nada e que escondeu graves acusações de um escroque do calibre de Arruda que qualquer órgão de imprensa sério teria obrigação de divulgar.

Quem, que autoridade, que político terá coragem de cobrar a Veja publicamente? Aliás, não seria dever do Ministério Público (eleitoral?) fazer esse questionamento à revista? Afinal, se as acusações de Arruda se confirmarem, seus ex-companheiros corruptos terão sido eleitos graças à censura que a Veja impôs a matéria de interesse público.

Como a “grande imprensa” tratará o assunto? Sairá na primeira página de Globos, Folhas e Estadões? O Jornal Nacional vai noticiar? Os acusados por Arruda serão expostos, como aconteceria se fossem do PT? Ou a entrevista ficará restrita à Veja e sumirá nos dias posteriores? A forma como a mídia tratará o caso deve virar um escândalo à parte.

Por Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania

quinta-feira, 17 de março de 2011

A criação da CPI da telefonia

Faltam 20 assinaturas para a má qualidade dos serviços de telefonia virar tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A proposta, encabeçada pelo deputado João Carlos Bacelar (PR), deve produzir seus primeiros efeitos ainda este ano, já que a expectativa do parlamentar é entregar o pedido de abertura da CPI ainda neste semestre. "A gente observa que o assunto tem um apelo público muito forte e, até mesmo os deputados entendem que as prestadoras do serviço estão passando dos limites de preço e má qualidade", comentou.

Bacelar explicou que a iniciativa deve-se aos recentes problemas ocorridos com a Oi na Bahia e no Rio de Janeiro, entre o final de 2010 e o início deste ano. "Durante o Natal teve casos de as varejistas não conseguirem passar cartão de crédito", comentou ele, que usou como exemplo o fato de as comunicações terem se mantido após o terremoto. "Lá funcionou e foi importante até para salvar as vítimas da catástrofe, agora, no Brasil o consumidor paga caro e tem um dos piores serviços do mundo".

Caso a CPI da telefonia seja aberta na casa, o deputado pretende chamar a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e as principais operadoras, para discutir propostas que podem virar Lei para a melhoria do serviço. "Se a Anatel não está atenta à fiscalização adequada, e as companhias estão paradas, vamos chamar para discutir", disse.

Segundo o deputado, este momento de início de legislatura é o mais adequado para promover este debate, pois: "Só temos duas CPIs em andamento e, como a regra da Câmara determina que possa ter até cinco, ainda temos espaço para mais três comissões".

À medida que os deputados querem debater o custo-benefício das telecomunicações brasileiras, algumas das maiores empresas do ramo mantém a ponta na lista de reclamações dos órgãos de defesa do consumidor, logo atrás dos bancos.

Nesta semana, por exemplo, a Fundação Procom, divulgou que a Telefônica — concessionária de telefonia e banda larga fixa em São Paulo— é a empresa com maior número de reclamações no Estado. Além do grupo espanhol, a operadora Claro, de telefonia celular e a Net Serviços, de televisão paga também ficaram entre as campeãs de reclamações na entidade.

Por Wilian Miron da Agência Dinheiro Vivo, publicado no blog de Luis Nassif

terça-feira, 15 de março de 2011

Obama no Brasil: “persona non grata”

Os movimentos sociais brasileiros consideram o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "persona non grata" no Brasil e repudiam a sua presença no país. Durante sua primeira visita ao Brasil, Obama fará um discurso na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, no próximo domingo (20). O evento terá início a partir das 11h30. O discurso do presidente americano será traduzido.

Obama chegou à presidência dos Estados Unidos em 2008 depois de uma propaganda eleitoral que pregava "mudanças", em oposição ao belicismo e à desastrosa administração na economia realizada por seu antecessor, George W. Bush.

De acordo com o consulado americano, durante sua visita, Obama passeará pelo Cristo Redentor e na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Obama deve se reunir, em Brasília, com a presidente Dilma Rousseff, participará de um almoço no Itamaraty e de um jantar no Palácio do Planalto, acompanhado da mulher, Michelle, e das filhas Malia e Sasha.

O voo que traz Obama ao Brasil está programado para aterrissar na Base Aérea de Brasília às 8h de sábado (19). Após desembarcar, o primeiro compromisso de Obama será um encontro com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, às 10h.

Em entrevista ao Portal Vermelho, a ativista Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz), disse que a visita do mandatário estadunidense será marcada pelo enérgico repúdio que os movimentos sociais manifestarão à presença de Obama no Brasil.

Segundo ela, "os movimentos sociais como o Cebrapaz e as entidades que integram a Coordenação dos Movimentos Sociais [CMS) devem manifestar o repúdio à visita de Obama ao Brasil. A nossa mídia diz que Obama vai fazer e acontecer no Brasil, mas na realidade ele vem para cá para impor a agenda do imperialismo na região”.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

O que o Cebrapaz pretende fazer durante a visita de Obama ao Brasil?

Os movimentos sociais, como o Cebrapaz e as entidades que integram a Coordenação dos Movimentos Sociais [CMS), devem manifestar o repúdio à visita de Obama ao Brasil. O que os Estados Unidos têm feito na América Latina é um mau exemplo. A nossa experiência mostra que os EUA não nos veem como amigos, mas como terra para explorar, dominar e saquear. Querem saquear recursos naturais, controlar os nossos mercados e dominar nossos povos [da América Latina].

Por isso os povos latino-americanos buscaram outro caminho de independência e soberania. Nossa história foi escrita com muito sangue e sofrimento, com ditaduras, invasões militares, complôs patrocinados pela CIA, assassinatos de presidentes. Nossa história testemunha a truculência e a força bruta do imperialismo americano em nosso território.

Quais são os verdadeiros motivos da viagem?

Obama fala em paz, em direitos humanos. Mas sua administração não cumpriu com as promessas feitas em sua campanha eleitoral, que dizia serem "sagradas". O desmantelamento da prisão de Guantânamo é promessa não cumprida e que não vai se cumprir em seu mandato. Ele tem total descompromisso com a paz. Não se discute sequer a situação de Guantânamo, uma área militar ocupada contra a vontade do povo cubano.

Obama vem ao Brasil para falar de direitos humanos e paz, mas ao mesmo tempo dá total apoio ao regime israelense quando invade, ocupa e promove a colonização de territórios palestinos.

Hoje, os Estados Unidos articulam uma intervenção militar contra a Líbia, demonstrando completo desrespeito à soberania dos povos.

Na América Latina, aprofundou a ingerência militar. Honduras, Panamá e Colômbia são exemplos gritantes disso. A manutenção da Quarta Frota da Marinha de Guerra americana, criada por Bush em junho de 2008, também desmente Obama e configura-se numa grande ameaça à soberania e à paz no continente latino-americano.

O que Obama vem fazer aqui é discurso retórico, descompromissado com suas atitudes, que têm ido no rumo contrário à paz e ao Direito Internacional. O regime americano mantém 50 mil soldados na ocupação do Iraque, além da ocupação do Afeganistão, que Obama declarou ser a "sua guerra". O Nobel da Paz caminha no sentido contrário ao da paz e da amizade entre os povos.

Entre outros assuntos, Obama deve abordar as relações que o Brasil tem com Venezuela e Cuba de forma a pressionar por outro caminho...

As nossas relações com outros povos são relações de países soberanos, que prezamos muito, e não aceitamos ingerências sobre elas. Com a Venezuela temos interesses comuns, como o Mercosul, como a Unasul. Participamos de uma serie de foros conjuntos e procuramos construir um caminho comum soberano, sob um novo paradigma. De respeito e de complementaridade, diferente das relações de força dos EUA com as nações do nosso continente.

Um fato curioso e que desperta o interesse da nossa mídia, desviando a atenção dos assuntos importantes, é que a embaixada dos Estados Unidos vai dar gadgets eletrônicos àqueles que fizerem as melhores frases de boas vindas ao presidente Obama. Você vê nisso alguma semelhança com o que os colonizadores fizeram no descobrimento do Brasil?

Esse é o tipo de relação que o imperialismo tem com os nossos povos, é uma tentativa de humilhar o nosso povo, repete a estratégia dos colonizadores, que davam miçangas, vidros coloridos e espelhos, ao mesmo tempo em que levavam em troca as nossas riquezas, como o ouro, o diamante e o pau-brasil.

Matéria publicada no sítio Vermelho

E se os EUA puserem as mãos em Assange?

Quando EUA e Grã-Bretanha procuram pretexto para invadir mais um país árabe rico em petróleo, a hipocrisia é sempre a mesma. Gaddafi é “louco” e têm as mãos “sujas de sangue”. E EUA e Grã-Bretanha, autores de uma invasão que matou um milhão de iraquianos; que sequestraram e mataram em nosso nome, esses, são sãos, não sou loucos, nunca viram sangue e querem ser, mais uma vez, árbitros da “estabilidade”.

Mas alguma coisa mudou. A realidade não é mais exatamente como o poder diz que é. De todas as espetaculares revoltas que agitam o mundo, a mais espetacular é a insurreição do conhecimento, disparada por WikiLeaks. A idéia não é nova.

Em 1792, o revolucionário Tom Paine advertiu seus leitores na Inglaterra de que o governo acreditava que “o povo pode ser engambelado e mantido em estado de supersticiosa ignorância, por qualquer bicho-papão”. Os direitos do homem, de Paine, foi considerado tão perigosa ameaça ao controle pela elite, que Paine foi preso, acusado de “conspiração perigosa e traiçoeira”. Esperto, Paine fugiu para a França.

A coragem e o calvário de Tom Paine foram citados pela Fundação Sydney Peace, no prêmio australiano de Direitos Humanos, Medalha de Ouro, que a Fundação deu a Julian Assange. Como Paine, Assange é homem que não serve a nenhum sistema e está ameaçado de ter de enfrentar um júri secreto, instrumento perverso há muitos anos abandonado na Inglaterra, mas ainda em uso nos EUA.

Se for extraditado para os EUA, provavelmente desaparecerá no mundo kafkiano que gerou o pesadelo que ainda existe na baía de Guantanamo e que, agora, já praticamente condenou Bradley Manning, sem julgamento, sem qualquer prova de que teria vazado documentos para WikiLeaks, acusado de crime capital.

Se fracassar o apelo que Assange apresentou à corte britânica contra sua extradição para a Suécia, o mais provável é que lhe seja negada a liberdade sob fiança e que seja mantido incomunicável até o julgamento secreto. A acusação construída contra Assange já foi descartada por um procurador em Estocolmo, e foi ressuscitada – quando um político de direita, Claes Borgstrom, manifestou-se publicamente a favor da “culpa” de Assange. Borgstrom, que é advogado, representa hoje as duas mulheres envolvidas. Seu sócio é Thomas Bodstrom, também advogado, que foi ministro da Justiça na Suécia em 2001, implicado na entrega de dois refugiados egípcios inocentes a um esquadrão de seqüestros da CIA, no aeroporto de Estocolmo. A Suécia, depois, foi condenada a pagar indenização aos egípcios e pagou, por terem sido torturados.

Esses fatos estão documentados em relatório do Parlamento da Austrália em Canberra, publicado dia 2 de março. Denunciando o erro judiciário gigantesco que ameaça Assange, o relatório denuncia, na palavra de especialistas e seguindo padrões da justiça internacional, o comportamento de vários funcionários do governo sueco, que teriam sido considerados “altamente impróprios e repreensíveis e desqualificariam qualquer alegação de julgamento justo”.

Ex-diplomata australiano, Tony Kevin, expôs os laços muito próximos que ligam o primeiro-ministro da Suécia, Frederic Reinheldt, e Republicanos da direita dos EUA: “Reinfeldt e [George W] Bush são amigos” – disse ele. Reinhaldt atacou Assange publicamente e contratou Karl Rove, ex-assessor de Bush, como conselheiro. Se for extraditado para a Suécia, Assange corre risco gravíssimo de ser, em seguida, extraditado da Suécia para os EUA.

O inquérito e as conclusões da investigação conduzida pelo governo da Austrália foram ignorados na Grã-Bretanha, onde, hoje, se prefere sempre a farsa mais negra.

Dia 3 de março, o jornal Guardian anunciou que a produtora Dream Works, de Stephen Spielberg, prepara-se para produzir um thriller político, nos moldes de "Todos os homens do presidente", a partir do livro WikiLeaks: Inside Julian Assange’s War on Secrecy [WikiLeaks: A guerra pessoal de Julian Assange contra o sigilo].

Perguntei a David Leigh, co-autor do livro, com Luke Harding, quanto Spielberg havia pago ao jornal Guardian pelos direitos de filmagem e o que ele, pessoalmente, pensava fazer. “Não tenho ideia” – foi a estranha resposta do “editor de reportagens investigativas” do Guardian.

O jornal Guardian nada pagou a WikiLeaks pelo inestimável pacote de telegramas. Assange e WikiLeaks – não Leigh ou Harding – são os autores do que o editor de Guardian, Alan Rusbridger, apresenta como “um dos maiores furos jornalísticos dos últimos 30 anos”.

O Guardian já disse que não precisa mais de Assange, para nada. É item descartado que não tem lugar no planeta Guardian. O editor de Guardian é negociador duro. E atrevido. No livro autolaudatório do Guardian, a extraordinária coragem de Assange foi apagada. É apresentado como um ninguém, ridículo, um australiano “meio diferente”, com uma mãe de “cabelo crespo”, gratuitamente ofendido como “grosseirão” e de “personalidade doentia”, classificável no “espectro do autismo”. Como Spielberg lidará com essa infantilóide tentativa de assassinato de reputação?

No programa Panorama da BBC, Leigh repetiu maledicências sobre Assange ser indiferente à vida das pessoas cujos nomes aparecem nos vazamentos. Quanto à acusação de que Assange teria denunciado uma “conspiração de judeus”, depois da qual sobreveio uma catarata de imbecilidades de internet, de que seria agente do Mossad, o próprio Assange respondeu. Disse que “era acusação falsa, em espírito e nas palavras”.

Difícil descrever, difícil, mais ainda, imaginar, o sentimento de isolamento, de sítio, em que Julian Assange vive. De um modo ou de outro, já está pagando o preço de ter exposto a fachada da rapacidade do poder. O carrasco, aqui, não é a extrema direita, mas o liberalismo, a casca fina de pseudo liberalismo dos que se fazem de defensores do direito de informar.

O New York Times merece lugar à parte, por ter assumido que censurou e continuará a censurar os telegramas. “Levamos todo o material para a direção do jornal” – disse Bill Keller, o editor. – “A direção do jornal nos convenceu de que seria prudente editar algumas das informações”. Em artigo de Keller, Assange é pessoalmente ofendido. Na Columbia School of Journalism, dia 3 de fevereiro, Keller disse, com todas as letras, que o público não espere a publicação de novos telegramas”. Poderia causar uma “cacofonia”. Falou o cão de guarda do sistema.

O valente Bradley Manning é mantido nu, em quarto iluminado vigiado por câmeras 24 horas por dia. Para Greg Barns, diretor da Aliança dos Advogados da Austrália, não são infundados os temores de que Julian Assange “acabe torturado numa prisão de segurança máxima nos EUA”. Quem será julgado por esse crime?

Por
John Pilger, traduzido pelo Coletivo VilaVudu e publicado no sítio Outras Palavras

domingo, 13 de março de 2011

Mídia, democracia e o marco regulatório

Pela primeira vez na história, o Ministério das Comunicações foi ocupado pelo representante de um partido de esquerda. Mesmo nos oito anos de governo Lula, o comando da pasta ficou a cargo de nomes indicados por legendas da base aliada, alguns deles com íntima relação histórica com os grupos nacionais de radiodifusão, como foi o caso de Hélio Costa. A chegada de Paulo Bernardo, com a experiência de já ter sido titular da pasta do Planejamento, vem sendo cercada de expectativas.

A principal delas é o encaminhamento da reforma da legislação da área. A aprovação de um novo marco regulatório é demanda antiga de especialistas, sindicalistas e de várias entidades que lutam pela democratização da comunicação. No último ano do governo Lula, sua importância foi percebida. No entanto, o tempo foi suficiente apenas para que um grupo comandado pela Secretaria de Comunicação do Governo, com o então ministro Franklin Martins à frente, elaborasse uma proposta como legado à nova gestão do Executivo Federal.

Parte do projeto já veio à tona por meio da imprensa especializada. Fala-se em uma reorganização institucional, cujo marco central seria a transformação da Agência Nacional de Cinema em Agência Nacional de Comunicação. Ela teria atribuições de fiscalização dos conteúdos e das outorgas dadas aos entes privados que exploram serviços como rádio e televisão. Ainda na parte de conteúdos, seriam definidas regras para garantir a presença de produção nacional, regional e independente nos veículos. Bem como medidas para proteger segmentos vulneráveis, como crianças.

A proposta, de acordo com notícias divulgadas, adotaria uma arquitetura convergente, tratando serviços de forma transversal às plataformas. Isso significa que em vez de televisão, rádio, TV a Cabo, teríamos três modalidades de serviços: de comunicação social, de comunicação eletrônica e de comunicação em rede. No caso daqueles audiovisuais, haveria uma divisão em lineares (programação de TV aberta, por exemplo) e não-lineares (vídeos não organizados em programações), abertos ou fechados. Em relação à propriedade, seria mantido o limite de 30% ao capital estrangeiro e haveria uma divisão entre as fases da cadeia: produção, programação e distribuição.

Além da técnica: que mídia queremos?

O debate sobre o novo marco regulatório não pode ficar circunscrito aos gabinetes do governo federal, aos bancos acadêmicos ou às rodas de especialistas e pesquisadores. É preciso que sua carcaça hermética seja despida, de modo a colocá-lo sob a perspectiva essencial que possui. Que tipo de comunicação queremos no Brasil? A resposta enseja um raciocínio que identifique o que não atende aos interesses da população e o que deve ser mudado. Elencamos aqui cinco nós críticos que precisam ser resolvidos nesse processo.

O primeiro é o caráter excessivamente comercial da nossa comunicação. No caso da televisão, por exemplo, as corporações controlam 80% das emissoras, 90% do financiamento e 95% da audiência. Enquanto isso, os meios públicos e comunitários lutam para sobreviver. No primeiro caso, a Empresa Brasil de Comunicação avançou, mas ainda está longe de se consolidar como alternativa real junto à população. No segundo caso, as rádios comunitárias continuam sendo perseguidas e as TVs comunitárias permanecem relegadas à prisão da TV a Cabo. O novo marco precisa, portanto, retirar essas modalidades da condição marginal, abrindo espaço no espectro para as emissoras, permitindo fontes de financiamento sustentáveis, ampliando radicalmente a participação e estabelecendo contornos de uma programação feita para, com e pelo público.

O segundo é o caráter concentrado e verticalizado da mídia brasileira. O modelo, baseado em poucos grupos estruturados em cabeças-de-rede e afiliadas, constituído no país, faz com que, de Uruguaiana (RS) a Coari (AM), se veja e se ouça a perspectiva do eixo Rio-São Paulo. Sabe-se mais sobre o Leblon e a Vila Madalena do que sobre o Nordeste e o Norte do país. Pesquisa do Observatório do Direito à Comunicação em 11 capitais mostrou que as afiliadas exibem apenas 10% de conteúdos próprios. Assim, outro desafio do marco é quebrar essa estrutura de oligopólio vertical, ampliando o número de fontes de informação e determinando limites para garantir a exibição de conteúdos realizados nas cidades das emissoras.

O terceiro, que deriva do anterior, é o cenário de faroeste no sistema de outorgas dos serviços de comunicações. Na radiodifusão, temos quase uma terra sem lei, em que os exploradores desrespeitam a constituição e a lei sem qualquer represália. A posse de emissoras por políticos, a exibição de publicidade além do limite de 25% e a veiculação de conteúdos discriminatórios são apenas alguns dos exemplos. Além disso, o poder público peca pela falta de transparência e se ausenta quase que integralmente da responsabilidade de fiscalizar essas concessões. Por esses motivos, o novo marco deve tratar com atenção o sistema de autorizações, definindo critérios que atendam os interesses dos cidadãos e fiscalizando frequentemente o seu cumprimento de forma transparente.

O quarto nó crítico é a exclusão no acesso aos serviços de comunicação, em especial ao de telecomunicações. Na telefonia móvel, cobramos tarifas das mais altas do mundo. Não por isso, temos mais de 190 milhões de aparelhos, porém, mais de 80% são pré-pagos e com baixo consumo na ligação. Na fixa, vivemos com uma taxa injustificável: a assinatura básica. A TV por assinatura chega a nove milhões de lares apenas. Nossa internet é, segundo o próprio governo federal, cara, lenta e de má qualidade. Embora políticas de acesso não sejam exclusividade de normas, elas podem, sim, determinar a oferta aos cidadãos e as modalidades de serviço. Entre elas, por exemplo, definir que a internet em banda larga seja prestada em regime público, tendo, portanto, obrigações de universalização e controle tarifário.

O quinto obstáculo que precisa ser resolvido é a impermeabilidade dos órgãos do poder público à população. Enquanto o Ministério das Comunicações sempre foi a casa dos radiodifusores e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mantém abertura às telefônicas e outras operadoras, sindicatos e ativistas sempre sofreram para realizar a interlocução. Até a Conferência Nacional de Comunicação – evento proposto apenas para debate de idéias – acabou seriamente ameaçada pela resistência do setor empresarial em abrir a discussão sobre a área.

Problemas antigos e novas soluções

O novo marco regulatório deve dar conta de uma extensa demanda democrática do século XX, que passa basicamente por desconcentrar o setor, ampliar a pluralidade e diversidade, fortalecer mídias públicas e comunitárias e colocar os órgãos públicos a serviço dos cidadãos. Mas precisa conjugar tais soluções com os desafios da convergência de mídias, que unifica serviços em plataformas e terminais e pressiona o setor para mais liberalização e mais concentração, a despeito da aparente aura de ampliação das fontes informativas.

Tal cenário, repetimos, não deve colocar a primazia da técnica. Os objetivos sociais não mudam, mas assumem novas formas. Partindo dessa reflexão, argumentamos que o novo marco precisa tomar como princípio a comunicação como direito humano e a democracia como cerne transversal. A construção da arquitetura deve, destarte, basear-se na definição dos serviços, entendidos como as atividades relacionadas à comunicação que impactam e servem aos cidadãos. Esses serviços têm de ser observados tanto da qualidade da prestação, o que envolve medidas anti-concentração e de garantia de padrões, quanto dos impactos que se pretende provocar.

A primazia do interesse da população sobre a técnica deve ser questão de mérito, e também de método. Por esta razão, esse novo marco precisa ser submetido a amplo debate, assim como ocorreu na Argentina. Como é conhecida a atuação dos setores empresariais no Congresso, para que a(s) nova(s) lei(s) não seja(m) apenas um arranjo para distribuir o lucro do setor, ela precisa ser fruto de uma reflexão coletiva e no seio da sociedade. Talvez assim seja possível atacar de frente os nós críticos que impedem nossa comunicação de alcançar sua plenitude democrática.

* Jonas Valente é integrante da Coordenação Executiva do Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes), secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e pesquisador do Laboratório de Políticas e Comunicação da Unb (Lapcom).

Por
Jonas Valente, publicado no Observatório do Direito à Comunicação

sábado, 12 de março de 2011

Os 10 maiores terremotos já registrados

Na madrugada de quinta para sexta-feira, a costa do Japão foi atingida por um terremoto de 8,9 graus na escala Richter, um dos mais intensos tremores já registrados no mundo desde 1900.

Horas depois, durante a sexta-feira, três novos tremores de 6,2, 6,1 e 6,6 também abalaram o país, que também sofre com tsunamis – ondas gigantes que invadem a terra firme como resultado dos abalos em alto mar.

O epicentro da primeira atividade foi a costa próxima à província de Miyagi, a 373 quilômetros da capital Tóquio. Até agora, especula-se que haja mais de mil mortos.

Os terremotos ocorrem devido ao movimento das placas tectônicas do planeta. Este, registrado no Japão, deve entrar na lista dos mais violentos. Confira abaixo quais são, por enquanto, os 10 maiores terremotos já registrados* desde 1900.

1- 9.5 graus de Magnitude. Chile – 22 de Maio de 1960: 1.655 mortos, 3000 feridos, dois milhões de desabrigados e US$500 milhões de prejuízo ao país.

2- 9.2 graus de magnitude. Príncipe William, Alaska – 27 e 28 de março de 1964: 128 mortos (113 no tsunami e 15 no terremoto) e US$311 milhões em prejuízo.

3- 9.1 graus de magnitude. Costa Oeste do norte de Sumatra – 26 de dezembro de 2004: 227.898 mortos e 1,7 milhão de desabrigados no terremoto e tsunami que atingiu 14 países do sul da Ásia e leste da África.

4- 9.0 graus de magnitude. Península de Kamchatka, Rússia – 11 de abril de 1952: gerou mais de US$1 milhão em prejuízos no Havaí.

5- 8.8 graus de Magnitude. Costa de Maule, Chile – 27 de fevereiro de 2010: pelo menos 521 mortos, 56 desaparecidos, 12 mil feridos, 800 mil desabrigados e 370 mil casas, 4.013 escolas e 79 hospitais danificados.

6- 8.8 graus de magnitude. Equador- 31 de janeiro de 1906 – entre 500 e 1500 mortos.

7- 8.7 graus de Magnitude. Alasca – 4 de fevereiro de 1965: causou prejuízos de US$10 mil.

8- 8.6 graus de magnitude. Norte de Sumatra, Indonésia – 28 de março de 2005: pelo menos 1400 mortos.

9- 8.6 graus de magnitude. Assam, Tibete – 15 de agosto de 1950: pelo menos 780 mortos e 70 vilas destruídas.

10- 8.6 graus de magnitude. Ilhas Andreanof, Alaska – 9 de março de 1957: abriu uma cratera de 4,5 metros e despertou um vulcão adormecido a 200 anos.

*Fonte: Serviço Geológico dos Estados Unidos. Revista INFO.

Uma fantástica iniciativa!



40 milhões de brasileiros recorreram a blogs para se informar na corrida presidencial

O internauta brasileiro é, no mundo, o que mais se informa por meio de blogs, segundo pesquisa da comScore, empresa que realiza estudos sobre internet. As informações são do Comunique-se.

A audiência dos blogs nacionais aumentou muito nas eleições do último ano, quando, entre outubro e novembro, 39,3 milhões de usuários acessaram conteúdo de blogs a respeito da corrida presidencial. Imagine quando a banda-larga chegar a mais domicílios.

Sete em cada 10 brasileiros que tem acesso à internet acessaram blogs em 2010

A pesquisa apurou que 71% dos brasileiros visitaram páginas de blogs durante 2010, enquanto no resto do mundo a média manteve-se em 50%.

O aumento no índice de leitura de blogs em 2010 por região:

Norte, Sudeste e Sul alavancaram três pontos percentuais. No Centro-Oeste, a demanda cresceu de 70,7% para 74,3% dos internautas, mas foi entre os nordestinos que ocorreu o maior salto, de 72,8% para 77%.

Por Helena Sthephanowitz, publicado originalmente no Rede Brasil Atual

sexta-feira, 11 de março de 2011

A ditadura está bem viva

As reações de chefes militares à instalação da Comissão Nacional da Verdade por meio de projeto de lei que o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional são apenas a ponta do iceberg que torna imperativa tal Comissão, ainda que os otimistas perguntem por que devemos revolver um passado que é mais confortável olvidar.

O resgate histórico do período de sombras que vai de 1964 a 1985, com a eleição (indireta) do primeiro civil após 21 anos de ditadura militar, não objetiva tão-somente preservar a memória do passado para evitar que se repita no futuro. Objetiva, sobretudo, combater ameaças contemporâneas.

Por doloroso que seja, é preciso constatar que a ditadura não está morta. Ela vive e paira sobre a nação.

A ditadura vive nas notas ameaçadoras que chefes militares publicam reiteradamente em desafio a presidentes como Lula e, agora, Dilma, comandantes-em-chefe das Forças Armadas. Durante a eleição do ano passado, militares cansaram de fazer ameaças diante da possibilidade de eleição da ex-guerrilheira Dilma Rousseff, por exemplo.

Mas não é só nos delírios de militares de pijama – e de outros paramentados com fardas sujas de sangue – que a ditadura subsiste.

A ditadura vive nos jovens riquinhos que espancam e discriminam homossexuais na avenida Paulista ou em qualquer outra parte do país.

A ditadura vive nos brancos de classe alta que espancam e discriminam nordestinos negros no Sul e no Sudeste.

A ditadura vive em Mayara Petruzo, a patricinha do interior de São Paulo que pregou que nordestinos e negros não tivessem direito a voto e que fossem assassinados, e nas dezenas de jovens que a apoiaram em redes sociais da internet.

A ditadura vive nos jovens que, através do Twitter, pregaram que a presidenta da República fosse assassinada por um franco-atirador no dia de sua posse.

A ditadura vive nos comentaristas da Globo como Luiz Carlos Prates, que não se conforma com a distribuição de renda que permite que “qualquer miserável” tenha um carro.

A ditadura vive em tantas delegacias de polícia em que a tortura é exatamente a mesma que a usada nos porões da ditadura militar.

A ditadura vive nos que mantém sites de extrema-direita que exaltam torturadores, estupradores e assassinos e que, não contentes em criar sites como o Ternuma, ainda saem fazendo ameaças contra os que execram o golpe de 1964.

Vejam só, logo abaixo, a ameaça que um tal de “General Azevedo”, que se diz ligado ao site de extrema-direita Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), postou ontem neste blog. Vale refletir sobre suas palavras.

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General Azevedo
ternuma.com.br/
gazevedo@hotmail.com
189.0.16.176
Enviado em 10/03/2011 às 18:47

Os comunistóides de bosta deste blogezinho de quinta categoria estão bastante alegres e agitadinhos.

O que tenho pra dizer é que continuamos bem alertas. Não duvidem do que somos capazes. Em 1964 quanto tentaram transformar esse país numa imensa Cuba tivemos que mostrar nossa força.

Vão brincado. Uma hora a palhaçada pode acabar mal para toda cambada de energúmenos adoradores das múmias soviéticas e dos dinossauros de Cuba. Não perdem por esperar.


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Então: quem continua achando que a ditadura está morta? Mortos não editam blogs e não fazem ameaças, não espancam negros e homossexuais, não fazem comentários fascistas na televisão, meus caros leitores.

A ditadura vive, respira e age. Nas sombras, no mais das vezes. Mas, de quando em quando, sai à luz do sol nas notas de chefes militares, nos atos de violência e em nosso próprio cotidiano, quando, em nosso meio social, ouvimo-lhes ou lhes lemos as idéias hediondas até em grandes meios de comunicação.

Desde o fim da ditadura que os sucessivos presidentes da República fazem de conta que não vêem militares da ativa e da reserva – e até parlamentares representantes da extrema direita, como o tal de Jair Bolsonaro – esbofeteando a nação que torturaram por duas décadas e tripudiando de suas vítimas.

A Comissão da Verdade, pois, é imperativa. Só a verdade sobre aquele período de horror permitirá que seja desmascarado em sua completude. Essa Comissão é imperativa para combater a ameaça que seus agentes fazem reiteradamente não só à democracia, mas a mentes jovens que passam a crer em suas mentiras.

O preço da acomodação é vivermos sob liberdade condicional. A própria democracia ainda é mera concessão dos golpistas sobreviventes e dos adeptos dos criminosos de 1964, que continuam envenenando mentes suscetíveis com a “solução” golpista para barrar a justiça social que o povo brasileiro tenta fazer prevalecer através do voto.

Como blogueiro e ativista político, assumo o compromisso de não tergiversar nessa questão. A ditabranda não será reinstalada neste país enquanto pessoas como eu e como os que prestigiam esta página com sua leitura permanecermos vigilantes e dispostos até a ir às ruas em defesa da democracia e do Estado de Direito.

Por Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania

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