domingo, 23 de janeiro de 2011

O jornalismo padrão globo de Bonner e o “amassa-barro” de Ana Paula Padrão

Pela janela do quarto,

Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle…

(Esquadros, Adriana Calcanhoto)

Do dia 17 a 19 de janeiro, o Jornal da Record exibiu uma reportagem especial intitulada “Vizinhos do Crime”. Nela, a jornalista Ana Paula Padrão e sua equipe demonstram as condições de vida dos jovens moradores da Vila Gilda, conjunto de moradias precárias – palafitas, na maioria – em uma região de manguezal em Santos. A reportagem foi exibida em três partes e mostrou desde o mundo do crime se apresentando como alternativa para os jovens – e o preço a ser pago por isto que é a perspectiva curta de vida (e os que se enveredam por isto demonstram, na reportagem, terem plena consciência disto) – e as tentativas quixotescas de alguns membros da comunidade de apresentar outras alternativas como o MC Careca, na arte, e o futebol (clique aqui para ver).

Curioso que o futebol está na alma dos jovens daquele bairro porém em perspectivas diferentes: um menino de 13 anos joga no infantil do Santos F.C e contou sua ida à Espanha para representar o alvinegro praiano em uma competição internacional e a camisa deste mesmo Santos FC aparece no rosto dos meninos do tráfico para esconder sua identidade.

O que chama a atenção nesta reportagem é a ousadia de Ana Paula Padrão de sair da assepsia do estúdio do telejornal que apresenta e ir para a rua, “amassar barro” literalmente. Lembrei-me de uma ocasião em que alunos de jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba, onde lecionei durante 17 anos, foram visitar os estúdios do SBT onde a jornalista Ana Paula Padrão apresentava um telejornal. Certo momento, um aluno perguntou sobre a questão da “importância da boa aparência para apresentar jornal de televisão”. Ana Paula Padrão ficou furiosa, respondeu “boa aparência o c…; eu fui repórter durante muito tempo, perdi feriados, Natal, passei por inúmeras situações para ser reconhecida profissionalmente” foi mais ou menos as palavras dela, indignada.

Lembro-me agora do William Bonner, do Jornal Nacional da Globo. A sua saída dos assépticos estúdios da Globo acontece dentro de um outro ambiente confortável, seguro e asséptico: o tal avião do JN, o aerobonner. É possível fazer uma analogia aos ecoturistas chiques estrangeiros que visitam a Amazônia dentro de seguros carros e cercado de seguranças das agências, podendo ver das janelas a paisagem “exótica” de plantas, animais e seres humanos estranhos. Uma das tentativas da Globo de ir para o mundo real deu em tragédia, a morte de Tim Lopes que, tragicamente, percebeu que o poder da rede do plim-plim não significa nada nas relações do tráfico nos morros do Rio de Janeiro (por isto a indignação da Globo com a morte do seu repórter que equivale ao sentimento de revolta de policiais quando um colega seu é morto – o poder não admite que suas fragilidades sejam expostas publicamente).

O JN sintetiza este tipo de “jornalismo” que olha através do seu bunker, onde a arrogância e prepotência de quem se julga o único construtor legítimo das agendas públicas pode ser exercida plenamente. O subalterno vira coitado, vítima e só aparece na tela como estatística ou, no limite da sua subjetividade, para dar tons emotivos com seus choros nas tragédias.

Independente de qualquer coisa, Ana Paula Padrão deu uma lição de jornalismo. Principalmente porque este tipo de matéria incomoda.

Por Dennis Oliveira, Revista Fórum

17 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do seu texto, concordo plenamente com suas observações. E aeroBonner é ótima sacada, tomara que pegue. Eu voltarei, abs. Samuel.

Aşka disse...

Muito bem observado. Excelente post.

Professor Kleber - Faculdade Estácio de Sá Campo Grande-MS disse...

Deve ser o jornalismo amassa dinheiro do fiéis que você gosta, você deve mamar um dinheirinho do Bispo também para publicar essas puxa-saquices da Ana Paula Padrão e da Rede Record.

estrela_da_manhã disse...

O bispo é apenas dono da emissora... Como as pessoas relevam isso... Melhor é a igreja católica que por séculos edificou sua riqueza na fraqueza do povo, e manipula tudo e todos, política, educação, informação... E ainda roubou a inocencia das pobres crianças que por ela foram abusadas...

Ao menos a record não tem rabo preso com nada nem ninguém, e nem tendenciona nenhuma manchete!

Vinni disse...

É um bom texto, mas nem Globo ou Record merece respeito ou admiração de alguém, são duas emissoras PODRES, cada uma com sua podridão...só espero sair do Brasil por que pelo jeito o País se afundará numa merda tão grande e num poço tão fundo que ser-humano algum poderá salvá-lo, tanto por culpa dos seus presidentes como também da cultura do seu povo, que a cada ano se fragiliza cada vez mais...

Anônimo disse...

Bom, imagino que a intenção do texto não foi santificar a Record ou dizer que a Globo é o capeta. São realmente duas emissoras que não se importam com o público... se importam com a renda. Defensores da Globo ou da Record ao discutir caem no mesmo erro que torcedores fanáticos por futebol, ou seja, enquanto os donos das emissoras ganham a grana, eles ganham inimigos.
O autor quis destacar a real qualidade da Ana Paula Padrão sobre a pouca e badalada do William Bonner, o que, segundo a minha opinião, é fato.

Escrevendo com Luz disse...

A Ana Paula Padrão sempre demonstrou muito profissionalismo, até mesmo quando deixou a rede Globo para ir trabalhar no SBT. Infelizmente, como todos sabemos, o SBT não tem estrutura alguma, tanto para exibir desenhos animados quanto para o jornalismo.
O Melhor que ela fez foi ir para a Record que teve uma grande ascenção na cena jornalistíca, onde ela obteve o reconhecimento que mereçe como uma das melhores jornalista que a tv brasileira já teve.
E antes que me julguem precipitadamente, não sou a favor de qualquer emissora, partido político e muito menos igreja, isso tudo só serve para manipular e alienar as pessoas que não tiveram um boa educação e por isso não tem qualquer senso crítico.

matheus disse...

A Ana Paula Padrão é realmente uma profissional excelente em sua área, porém ela, depois de cada reportagem faz um comentário rídiculo sobre o que foi apresentado.

leebano disse...

Adorei a alfinetada da Estrela da Manhã e ela expôs uma realidade cotidiana sobre o, ainda, poder da Igreja. Vinícius, não adianta fugir amigo, quando o mundo acabar, você estará lá, seja onde e quando for.

Unknown disse...

Eu gosto do Bonner, e acho que ela não sai muito do estudio pq o cara é editor-chefe do JN. Não sei se com um cargo desse é possível ele ficar indo a campo muitas vezes.

François Gnoatto disse...

Olha, não sei realmente o que acontece, mas acredito que pelo menos duas coisas influenciam nessa diferença de comportamento: primeiro, a vontade ou personalidade de cada um. Segundo, e talvez até mais importante, o que o chefe exige de cada um. Lembro a todos que a Ana Paula Padrão, mesmo quando estava na Globo, já fazia esse tipo de reportagens. Mais precisamente, na Guerra do Afeganistão. O Jornal da Globo lançou uma série intitulada Diários de Cabul, e quem foi fazer as reportagens, diretamente lá, foi ela. Portanto, em primeiro lugar, acho que depende mesmo da vontade de cada um. Ela é, antes de tudo, repórter. Gosta da notícia, de viver o assunto. O Bonner, me parece, tem outro objetivo. A questão da credibilidade do âncora faz toda diferença para o jornal, e não adianta querer negar isso. A calma, a voz modulada, o jeito até mesmo pasteurizado de dar a notícia, sem demonstrar envolvimento, fazem parte do "pacote" desejado pelas emissoras que procuram justamente isso na figura do âncora. A função dele não é ir pra rua mesmo. São funções diferentes. E tem muito a ver com o que o patrão espera de cada um. Não acho um nem melhor, nem pior que o outro por causa disso. Ambos são respeitados e construíram suas carreiras de acordo com seu próprio perfil. Parabéns para ambos.

estrela_da_manhã disse...

Valeu, Lee Bano!!

Thiago Padilha disse...

Pra mim, é mais um texto de um jornalista frustrado por não ter toda a infraestrutura da Globo para permitir fazer sua apresentação "assepsia". Desde quando para cobrir um alagamento o repórter precisa ficar com a água pela cintura? Coisas que o jornal da Record, do SBT fazem... não é necessário o profissional "ser" a notícia para contá-la. Ou quem sabe as emissoras vão pagar o tratamento de saúde por uma leptospirose que venham a contrair para vir o personagem principal da notícia. Me poupem...

Unknown disse...

Ótima abordagem! Vale lembrar que Bonner comparou seu telespectador com Homer Simpson, personagem estúpido da série Simpsons. Com essa consideração dá pra entender pq ele não sai dos estúdios.

Anônimo disse...

Agora a Ana Paula Padrao eh melhor Jornalisa e pessoa que o Willian Boner porque anda no meio de favelados? Se liga! Que o Mundo inteiro eh uma grande privada e todos somos umas grandes bostas...

Anônimo disse...

Conheço uma pessoa que trabalhou diretamenta com a Ana Paula Padrão e disse que ela não é essa santinha não, ela pode ter dito isto naquele momento, mas ela vai amassar barro, justamente para que achemos que ela é muito humanizada, quando na verdade gosta mesmo é de aparecer, é arrogante com quem trabalha com ela e não se importa com a opinião de outras pessoas.

Unknown disse...

assisti essa serie e realmente ela ter saido para fazer as reportagens é bem bacana. mas apesar de nao assistir a globo e ser "defensora" da rede record, pois realmente vem crescendo no país, há ainda algumas atitudes imperdoaveis cometidas pela Ana Paula Padrão, no debate político quando o candidato do psol se atrapalhou, ela riu e muito, desrespeitando assim ele. na última sexta-feira mostrou uma reportagem no rs de uma melancia gigante, onde no final ela perdeu totalmente a compostura qdo riu de um entrevistado pelo seu jeito de falar, são atitudes de revelam falta de ética.

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