terça-feira, 15 de março de 2011

Obama no Brasil: “persona non grata”

Os movimentos sociais brasileiros consideram o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "persona non grata" no Brasil e repudiam a sua presença no país. Durante sua primeira visita ao Brasil, Obama fará um discurso na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, no próximo domingo (20). O evento terá início a partir das 11h30. O discurso do presidente americano será traduzido.

Obama chegou à presidência dos Estados Unidos em 2008 depois de uma propaganda eleitoral que pregava "mudanças", em oposição ao belicismo e à desastrosa administração na economia realizada por seu antecessor, George W. Bush.

De acordo com o consulado americano, durante sua visita, Obama passeará pelo Cristo Redentor e na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Obama deve se reunir, em Brasília, com a presidente Dilma Rousseff, participará de um almoço no Itamaraty e de um jantar no Palácio do Planalto, acompanhado da mulher, Michelle, e das filhas Malia e Sasha.

O voo que traz Obama ao Brasil está programado para aterrissar na Base Aérea de Brasília às 8h de sábado (19). Após desembarcar, o primeiro compromisso de Obama será um encontro com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, às 10h.

Em entrevista ao Portal Vermelho, a ativista Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz), disse que a visita do mandatário estadunidense será marcada pelo enérgico repúdio que os movimentos sociais manifestarão à presença de Obama no Brasil.

Segundo ela, "os movimentos sociais como o Cebrapaz e as entidades que integram a Coordenação dos Movimentos Sociais [CMS) devem manifestar o repúdio à visita de Obama ao Brasil. A nossa mídia diz que Obama vai fazer e acontecer no Brasil, mas na realidade ele vem para cá para impor a agenda do imperialismo na região”.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

O que o Cebrapaz pretende fazer durante a visita de Obama ao Brasil?

Os movimentos sociais, como o Cebrapaz e as entidades que integram a Coordenação dos Movimentos Sociais [CMS), devem manifestar o repúdio à visita de Obama ao Brasil. O que os Estados Unidos têm feito na América Latina é um mau exemplo. A nossa experiência mostra que os EUA não nos veem como amigos, mas como terra para explorar, dominar e saquear. Querem saquear recursos naturais, controlar os nossos mercados e dominar nossos povos [da América Latina].

Por isso os povos latino-americanos buscaram outro caminho de independência e soberania. Nossa história foi escrita com muito sangue e sofrimento, com ditaduras, invasões militares, complôs patrocinados pela CIA, assassinatos de presidentes. Nossa história testemunha a truculência e a força bruta do imperialismo americano em nosso território.

Quais são os verdadeiros motivos da viagem?

Obama fala em paz, em direitos humanos. Mas sua administração não cumpriu com as promessas feitas em sua campanha eleitoral, que dizia serem "sagradas". O desmantelamento da prisão de Guantânamo é promessa não cumprida e que não vai se cumprir em seu mandato. Ele tem total descompromisso com a paz. Não se discute sequer a situação de Guantânamo, uma área militar ocupada contra a vontade do povo cubano.

Obama vem ao Brasil para falar de direitos humanos e paz, mas ao mesmo tempo dá total apoio ao regime israelense quando invade, ocupa e promove a colonização de territórios palestinos.

Hoje, os Estados Unidos articulam uma intervenção militar contra a Líbia, demonstrando completo desrespeito à soberania dos povos.

Na América Latina, aprofundou a ingerência militar. Honduras, Panamá e Colômbia são exemplos gritantes disso. A manutenção da Quarta Frota da Marinha de Guerra americana, criada por Bush em junho de 2008, também desmente Obama e configura-se numa grande ameaça à soberania e à paz no continente latino-americano.

O que Obama vem fazer aqui é discurso retórico, descompromissado com suas atitudes, que têm ido no rumo contrário à paz e ao Direito Internacional. O regime americano mantém 50 mil soldados na ocupação do Iraque, além da ocupação do Afeganistão, que Obama declarou ser a "sua guerra". O Nobel da Paz caminha no sentido contrário ao da paz e da amizade entre os povos.

Entre outros assuntos, Obama deve abordar as relações que o Brasil tem com Venezuela e Cuba de forma a pressionar por outro caminho...

As nossas relações com outros povos são relações de países soberanos, que prezamos muito, e não aceitamos ingerências sobre elas. Com a Venezuela temos interesses comuns, como o Mercosul, como a Unasul. Participamos de uma serie de foros conjuntos e procuramos construir um caminho comum soberano, sob um novo paradigma. De respeito e de complementaridade, diferente das relações de força dos EUA com as nações do nosso continente.

Um fato curioso e que desperta o interesse da nossa mídia, desviando a atenção dos assuntos importantes, é que a embaixada dos Estados Unidos vai dar gadgets eletrônicos àqueles que fizerem as melhores frases de boas vindas ao presidente Obama. Você vê nisso alguma semelhança com o que os colonizadores fizeram no descobrimento do Brasil?

Esse é o tipo de relação que o imperialismo tem com os nossos povos, é uma tentativa de humilhar o nosso povo, repete a estratégia dos colonizadores, que davam miçangas, vidros coloridos e espelhos, ao mesmo tempo em que levavam em troca as nossas riquezas, como o ouro, o diamante e o pau-brasil.

Matéria publicada no sítio Vermelho

E se os EUA puserem as mãos em Assange?

Quando EUA e Grã-Bretanha procuram pretexto para invadir mais um país árabe rico em petróleo, a hipocrisia é sempre a mesma. Gaddafi é “louco” e têm as mãos “sujas de sangue”. E EUA e Grã-Bretanha, autores de uma invasão que matou um milhão de iraquianos; que sequestraram e mataram em nosso nome, esses, são sãos, não sou loucos, nunca viram sangue e querem ser, mais uma vez, árbitros da “estabilidade”.

Mas alguma coisa mudou. A realidade não é mais exatamente como o poder diz que é. De todas as espetaculares revoltas que agitam o mundo, a mais espetacular é a insurreição do conhecimento, disparada por WikiLeaks. A idéia não é nova.

Em 1792, o revolucionário Tom Paine advertiu seus leitores na Inglaterra de que o governo acreditava que “o povo pode ser engambelado e mantido em estado de supersticiosa ignorância, por qualquer bicho-papão”. Os direitos do homem, de Paine, foi considerado tão perigosa ameaça ao controle pela elite, que Paine foi preso, acusado de “conspiração perigosa e traiçoeira”. Esperto, Paine fugiu para a França.

A coragem e o calvário de Tom Paine foram citados pela Fundação Sydney Peace, no prêmio australiano de Direitos Humanos, Medalha de Ouro, que a Fundação deu a Julian Assange. Como Paine, Assange é homem que não serve a nenhum sistema e está ameaçado de ter de enfrentar um júri secreto, instrumento perverso há muitos anos abandonado na Inglaterra, mas ainda em uso nos EUA.

Se for extraditado para os EUA, provavelmente desaparecerá no mundo kafkiano que gerou o pesadelo que ainda existe na baía de Guantanamo e que, agora, já praticamente condenou Bradley Manning, sem julgamento, sem qualquer prova de que teria vazado documentos para WikiLeaks, acusado de crime capital.

Se fracassar o apelo que Assange apresentou à corte britânica contra sua extradição para a Suécia, o mais provável é que lhe seja negada a liberdade sob fiança e que seja mantido incomunicável até o julgamento secreto. A acusação construída contra Assange já foi descartada por um procurador em Estocolmo, e foi ressuscitada – quando um político de direita, Claes Borgstrom, manifestou-se publicamente a favor da “culpa” de Assange. Borgstrom, que é advogado, representa hoje as duas mulheres envolvidas. Seu sócio é Thomas Bodstrom, também advogado, que foi ministro da Justiça na Suécia em 2001, implicado na entrega de dois refugiados egípcios inocentes a um esquadrão de seqüestros da CIA, no aeroporto de Estocolmo. A Suécia, depois, foi condenada a pagar indenização aos egípcios e pagou, por terem sido torturados.

Esses fatos estão documentados em relatório do Parlamento da Austrália em Canberra, publicado dia 2 de março. Denunciando o erro judiciário gigantesco que ameaça Assange, o relatório denuncia, na palavra de especialistas e seguindo padrões da justiça internacional, o comportamento de vários funcionários do governo sueco, que teriam sido considerados “altamente impróprios e repreensíveis e desqualificariam qualquer alegação de julgamento justo”.

Ex-diplomata australiano, Tony Kevin, expôs os laços muito próximos que ligam o primeiro-ministro da Suécia, Frederic Reinheldt, e Republicanos da direita dos EUA: “Reinfeldt e [George W] Bush são amigos” – disse ele. Reinhaldt atacou Assange publicamente e contratou Karl Rove, ex-assessor de Bush, como conselheiro. Se for extraditado para a Suécia, Assange corre risco gravíssimo de ser, em seguida, extraditado da Suécia para os EUA.

O inquérito e as conclusões da investigação conduzida pelo governo da Austrália foram ignorados na Grã-Bretanha, onde, hoje, se prefere sempre a farsa mais negra.

Dia 3 de março, o jornal Guardian anunciou que a produtora Dream Works, de Stephen Spielberg, prepara-se para produzir um thriller político, nos moldes de "Todos os homens do presidente", a partir do livro WikiLeaks: Inside Julian Assange’s War on Secrecy [WikiLeaks: A guerra pessoal de Julian Assange contra o sigilo].

Perguntei a David Leigh, co-autor do livro, com Luke Harding, quanto Spielberg havia pago ao jornal Guardian pelos direitos de filmagem e o que ele, pessoalmente, pensava fazer. “Não tenho ideia” – foi a estranha resposta do “editor de reportagens investigativas” do Guardian.

O jornal Guardian nada pagou a WikiLeaks pelo inestimável pacote de telegramas. Assange e WikiLeaks – não Leigh ou Harding – são os autores do que o editor de Guardian, Alan Rusbridger, apresenta como “um dos maiores furos jornalísticos dos últimos 30 anos”.

O Guardian já disse que não precisa mais de Assange, para nada. É item descartado que não tem lugar no planeta Guardian. O editor de Guardian é negociador duro. E atrevido. No livro autolaudatório do Guardian, a extraordinária coragem de Assange foi apagada. É apresentado como um ninguém, ridículo, um australiano “meio diferente”, com uma mãe de “cabelo crespo”, gratuitamente ofendido como “grosseirão” e de “personalidade doentia”, classificável no “espectro do autismo”. Como Spielberg lidará com essa infantilóide tentativa de assassinato de reputação?

No programa Panorama da BBC, Leigh repetiu maledicências sobre Assange ser indiferente à vida das pessoas cujos nomes aparecem nos vazamentos. Quanto à acusação de que Assange teria denunciado uma “conspiração de judeus”, depois da qual sobreveio uma catarata de imbecilidades de internet, de que seria agente do Mossad, o próprio Assange respondeu. Disse que “era acusação falsa, em espírito e nas palavras”.

Difícil descrever, difícil, mais ainda, imaginar, o sentimento de isolamento, de sítio, em que Julian Assange vive. De um modo ou de outro, já está pagando o preço de ter exposto a fachada da rapacidade do poder. O carrasco, aqui, não é a extrema direita, mas o liberalismo, a casca fina de pseudo liberalismo dos que se fazem de defensores do direito de informar.

O New York Times merece lugar à parte, por ter assumido que censurou e continuará a censurar os telegramas. “Levamos todo o material para a direção do jornal” – disse Bill Keller, o editor. – “A direção do jornal nos convenceu de que seria prudente editar algumas das informações”. Em artigo de Keller, Assange é pessoalmente ofendido. Na Columbia School of Journalism, dia 3 de fevereiro, Keller disse, com todas as letras, que o público não espere a publicação de novos telegramas”. Poderia causar uma “cacofonia”. Falou o cão de guarda do sistema.

O valente Bradley Manning é mantido nu, em quarto iluminado vigiado por câmeras 24 horas por dia. Para Greg Barns, diretor da Aliança dos Advogados da Austrália, não são infundados os temores de que Julian Assange “acabe torturado numa prisão de segurança máxima nos EUA”. Quem será julgado por esse crime?

Por
John Pilger, traduzido pelo Coletivo VilaVudu e publicado no sítio Outras Palavras

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