terça-feira, 22 de março de 2011

EUA querem invadir as redes sociais

A história poderia ter brotado de uma ficção sobre guerras cibernéticas, mas está a ponto de se tornar real. O Comando Central do Exército dos Estados Unidos (CentCom) prepara uma grande operação para manipular as redes sociais. Centenas de militares poderão ser mobilizados para intervir em ambientes como o Twitter e o Facebook, sempre que houver críticas ao papel de Washington no mundo.

Porém, omitirão suas identidades. Contarão com um software que multiplicará falsos perfis de usuários destas redes, e os transformará em “fantoches” eletrônicos – para usar uma expressão do londrino The Guardian, que apurou os fatos e os expôs na edição de quinta-feira (17/3). A operação fere as leis dos EUA. Será realizada graças a uma brecha legal, que não impede o exército de praticar manipulação contra internautas de outros países. Aparentemente, irá se desenvolver, num primeiro momento, no Oriente Médio. Nada impede, contudo, que seja voltada contra outros alvos.

Como boa parte dos ataques do Estado norte-americano aos direitos civis, a operação usa como pretexto a “guerra ao terror”. Tem nome orwelliano: Operation Earnest Voice (OEV), algo como Operação Voz Sincera. Sua existência foi revelada pela primeira vez em público no ano passado, num depoimento do general David Paetreus, então chefe do CentCom, ao comitê de Assuntos Militares do Senado norte-americano. Para defendê-la, ele afirmou que se tratava de um esforço para “conter a ideologia e propaganda extremistas”.

No mês passado, ao falar ao mesmo comitê, o sucessor de Paetreus, general James Mattis, admitiu objetivos mais vastos. Segundo ele, a OEV “abrange todas as atividades associadas à anulação da narrativa do inimigo, inclusive atuação na web e a destruição de capacidades derivadas de produtos na web”.

A pista permitiu que The Guardian desvendasse, ao menos em parte, a configuração verdadeira da OEV – que inclui detalhes espantosos. O jornal localizou, por exemplo, o contrato que o CentCom firmou com a Ntrepid, uma corporação de desenvolvimento de softwares baseada na Califórna. A empresa compromete-se a criar um “serviço online de gerenciamento de personagens”. Ele deve permitir que cada soldado maneje até dez identidades distintas, baseadas em qualquer parte do mundo.

Cada personagem falso deve ter um perfil convincente, uma história e detalhes pessoais. Baseados nos Estados Unidos, os manipuladores das identidades fake devem sentir-se seguros para agir “sem medo de ser descobertos por adversários sofisticados”. O próprio Guardian esclarece o que se pode pretender com tal desenho. “Soldados norte-americanos, atuando de modo intenso num único ponto, poderiam imiscuir-se em conversações online, produzindo um número ilimitado de mensagens coordenadas, posts em blogs, salas de chat e outras intervenções”.

Por ser uma óbvia intervenção do Estado (em particular dos militares) no espaço público, tal prática é vedada pela legislação norte-americana. Questionado a respeito pelo jornal, o porta-voz do CentCom, comandante Bill Speaks, defendeu-se. “Assegurou” que, para evitar ilegalidades, as manipulações seriam feitas em muitos idiomas, jamais em inglês…

Concebida para neutralizar um espaço de comunicação autônomo, onde o poder dos oligopólios da mídia não conseguiu se impor, a operação terá sucesso? Parece duvidoso. Primeiro, pelas próprias reações que a iniciativa tende a despertar. Especialistas ouvidos pelo Guardian compararam a iniciativa dos Estados Unidos “aos esforços da China para controlar e restringir o direito de expressão na internet”.

Na mesma edição do jornal, Jeff Jarvis, professor de jornalismo na Universidade da Cidade de Nova York, reagiu com um misto de ironia e lástima às revelações do The Guardian. Para ele, a iniciativa de Washington é tão bizarra quanto a de um spammer tosco. “É espantosamente estúpida, porque quase não há dúvidas de que os falsos perfis serão desmascarados”. O resultado será o contrário do pretendido: “desgaste, ao invés de fortalecimento da credibilidade dos Estados Unidos”.

Decepcionado com o envolvimento do governo Obama em projetos de tal nível (e na perseguição ao Wikileaks), Jarvis lembra: enquanto a Casa Branca apela para a conspiração e o segredo, em países como a Tunísia e o Egito “o movimento de libertação não parte de armas, espionagens ou subterfúgios, mas de algo muito mais forte: transparência, abertura e honestidade”.

Por Cauê Seigne Ameni, publicado no sítio Outras Palavras

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