sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BBB 11 - Ética pelo ralo

O formato é o mesmo já consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos.

No dia 11/1/201 a TV Globo levou ao ar seu programa de maior audiência no verão brasileiro: Big Brother Brasil 11. Sucesso de público, sucesso de marketing, sucesso financeiro, sempre na casa dos milhões de reais. Fracasso ético, fracasso de cidadania, fracasso de respeito aos direitos humanos fundamentais.

O prêmio será de R$ 1,5 milhão para o vencedor. O segundo e terceiro lugares levam, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil. As inscrições para a próxima edição do BBB já estão encerradas. Ao todo, nas dez edições, foram 140 participantes. E já foram entregues mais de R$ 8,5 milhões em prêmios. Balanço raquítico, tanto numérico quanto financeiro para seus participantes, para um programa que se especializou em degradar a condição humana.

Aos 11 anos de existência, roubando sempre 25% do ano (janeiro a março) e agora entrando na puberdade como se humano fosse, o BBB começa anunciando que passará por mudanças na edição 2011. Se você pensou que as mudanças seriam para melhorar o que não tem como ser melhorado se enganou redondamente. O formato será sempre o mesmo, consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos contra negros, pobres, analfabetos funcionais.

Após dez anos seguidos, sabemos que a receita do reality show inclui em sua base de sustentação as antivirtudes da mentira, da deslealdade, dos conluios e... da cafajestagem. Aos poucos, todos irão se despir de sua condição humana tão logo um deles diga que "isto aqui é um jogo". Outros ensaiarão frases pretensamente fincadas na moral: "Mas nem tudo vou fazer para ganhar esse jogo."

Como miquinhos amestrados, os participantes estarão ali para serem desrespeitados, não poucas vezes humilhados e muitas vezes objeto de escárnio e lições filosóficas extraídas de diferentes placas de caminhões e compartilhadas quase diariamente pelo jornalista Pedro Bial, ao que parece, senhor absoluto do reality show. Não faltarão "provas" grotescas, como colocar uma participante para botar ovo a cada trinta minutos; outra para latir ou miar a cada hora cheia; algum outro para passar 24 horas de sua vida fantasiado de bailarina ou para pular e coaxar como sapo sempre que for ativado determinado sinal acústico. O domador, que terá como chicote sua lábia de ocasião ou nalgumas vezes sua língua afiada, continuará sendo Pedro Bial que, a meu ver, representa um claro sinal de como as engrenagens que movem a televisão guardam estreita semelhança com aqueles velhos moedores de carne.

O último a sair da jaula
É inegável que Bial é talentoso. É inegável que passou parte de sua vida tendo páginas de livros ao alcance das mãos e dos olhos. É inegável também que parece inconsciente dos prejuízos éticos e morais que haverá de carregar vida afora. Isto porque a cada nova edição do reality mais se plasmam os nomes BBB e Pedro Bial. E será difícil ao ouvir um não lembrar imediatamente o outro. Porque lançamos aqui nosso nome, que poderá ter vida fugaz de cigarra ou ecoará pela eternidade. Imagino, daqui a uns 25 anos, em 2035, quando um descendente deste Pedro for reconhecido como bisneto daquele homem engraçado que fazia o Big Brother no Brasil. E os milhares de vídeos armazenados virtualmente no YouTube darão conta de ilustrar as gerações do porvir.

E, no entanto, essas quase duas dezenas de jovens estarão ali para ganhar fama instantânea, como se estivessem acondicionados naqueles pacotinhos de sopa da marca Miojo. Imagino cada um deles a envergar letreiro imaginário a nos dizer com a tristeza possível que "Coloco à venda meu corpo sem alma, meu coração quebrado e minha inteligência esgotada; vendo tudo isso muito barato porque vejo que há muita oferta no mercado". E teremos aquele interminável desfile de senso comum. Afinal, serão 90 dias de vida desperdiçada, ou melhor, de vida em que a principal atividade humana será jogar conversa fora. O que dá no mesmo. E não será o senso comum exatamente aquele conjunto de preconceitos adquiridos antes de completarmos 15 anos de vida?

Friederich Nietzsche (1844-1900) parecia ter o dom da premonição. É que o filósofo alemão se antecipava muito quando se tratava de projetar ideias sobre a condição humana. É dele esta percepção: "O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele". Isto porque Nietzsche foi poupado de atrações quase sérias e semi-circenses, como o BBB. No picadeiro, o macaco é aplaudido por sua imitação do humano: se equilibra e passeia de triciclo e de bicicleta, se veste de gente, com casaca e gravata, sabe usar vaso sanitário, descasca alimentos. No picadeiro do BBB, os seres humanos são aplaudidos por se mostrarem intolerantes uns com os outros, se vestem de papagaios, ladram, miam, coaxam, zumbem – e tudo como se animais fossem. Chegam a botar ovo em momento predeterminado. Se vestem de esponja e se encharcam de detergente a limpar pratos descomunais noite afora.

Em sua imitação de animal, o humano que se sobressai no BBB é aquele que consegue ficar engaiolado – digo, literalmente engaiolado – junto com outros bípedes não emplumados – por grande quantidade de horas. E sem poder satisfazer as necessidades humanas básicas, muitas vezes tendo que ficar em uma mesma posição, como seriemas destreinadas. E são os únicos animais que demonstram imensa felicidade em permanecer por mais tempo na gaiola. Não lhes jogam bananas nem pipocas, mas quem for o último a sair da jaula semi-humana ganha uma prenda. Pode ser um passeio de helicóptero, pode ser um carro, pode ser uma noite na Marquês de Sapucaí.

Heidegger reconheceria
O leitor atento deve ter percebido que em algum momento deste texto mencionei que o BBB 11 terá mudanças. Nem vou me dar ao trabalho de editar. Eis o quecopiei do site G1:

"Boninho, diretor do BBB, falou em seu Twitter nesta quarta-feira, 24/11, sobre a nova edição do programa, a 11ª, que estreará em janeiro de 2011. E ele adianta que, desta vez, as coisas vão mudar. ‘Esse ano tudo vai ser diferente... Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser’, postou Boninho em seu microblog. Questionado sobre o que estaria liberado no confinamento que não estava em edições anteriores, ele respondeu: ‘Esse ano... liberado! Vai valer tudo, até porrada’. Boninho também comentou sobre as bebidas no reality show: ‘Acabou o ice no BBB... Vai ser power... chega de bebida de criança’, escreveu."

Não terá chegado a hora de o portentoso império Globo de comunicação negociar com o governo italiano a cessão do Coliseu romano para parte das locações, ao menos aquelas em que murros e safanões, sob efeito de álcool ou não, certamente ocorrerão? E como nada compreendo de Heidegger, só me resta dizer que ao longo de toda sua vida madura Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de haver um sentido básico do verbo "ser" que estaria por trás de sua variedade de usos. E são recorrentes suas concepções quanto ao que existe, o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser (i.e. uma Ontologia) dependente dos filósofos antes de Sócrates, da filosofia de Platão e de Aristóteles e dos Gnósticos.

Quem sabe tivesse assistido uma única noite do BBB – caso o formato da Endemol estivesse em cena antes de 1976 –, o filósofo, por muitos cultuado, não apenas teria uma confirmação segura de que não valia mesmo a pena publicar o segundo volume de sua obra principal, O Ser e o Tempo, como também haveria de reconhecer a inexistência de algo anterior ao ser. Mas, com certeza, se fartaria com a miríade de usos dados ao verbo "ser".

Por
Washington Araújo, Publicado originalmente no Observatório da Imprensa

também no Carta Maior

Salário mínimo e o preço do desgaste

O governo Dilma Rousseff venceu fácil a sua primeira batalha no Congresso Nacional. A proposta de reajuste do salário mínimo para R$ 545 foi aprovada com folgada maioria pela base governista, demonstrando a força temporária desta hibrida aliança. A emenda do PSDB, que oportunisticamente propunha um aumento para R$ 600, foi rejeitada por 376 votos – nem sequer todos os tucanos votaram nela. Já a emenda do DEM, que defendia um reajuste para R$ 560, foi rejeitada por 361 votos.

Mais sujo do que pau de galinheiro

A proposta segue agora à votação no Senado e, se for aprovada, começa a valer em 1º de março, com o salário mínimo subindo de R$ 510 para R$ 545. Em mais de dez horas de debates acalorados, vaias, bravatas e votações, os deputados federais também mantiveram a fórmula de cálculo do reajuste do mínimo acordada entre o presidente Lula e as centrais sindicais – que repõe a inflação do ano, mais a variação do Produto Interno Bruto nos dois anos anteriores. Esta fórmula valerá por mais quatro anos.

O resultado, como já foi dito, expressa a força da base governista. Todos os partidos aliados optaram por seguir as orientações do Palácio do Planalto, sob o argumento de que uma derrota na primeira escaramuça congressual causaria transtornos à presidenta Dilma no início do seu mandato. A oposição de direita até tentou se aproveitar da situação constrangedora, com os seus líderes – mais sujos do que pau de galinheiro – fazendo demagogia sobre o mínimo. No final, a foto demonstrou sua crescente fragilidade.

Autonomia e pressão das centrais sindicais

Já as centrais sindicais cumpriram seu papel. De forma unitária, preservaram sua autonomia diante do novo governo e apostaram na mobilização para exigir um reajuste maior. Durante vários dias, elas “infernizaram” a vida dos parlamentares. Não caíram nas bravatas neoliberais de que o aumento real do salário mínimo causaria inflação e abalaria as contas públicas. Também criticaram a forma intransigente como o governo conduziu as negociações sobre o projeto, em especial o ministro Guido Mantega.

As centrais defenderam a manutenção do acordo firmado com o ex-presidente Lula, que garantiu maior valorização do mínimo nos últimos anos e foi um dos responsáveis pelo aquecimento do mercado interno, o que reduziu o impacto da crise mundial do capitalismo no Brasil. Ao mesmo tempo, com base no crescimento acelerado da economia no ano passado, elas pressionaram por um aumento maior. Afinal, para salvar empresas em dificuldades e ruralistas endividados, o governo vive promovendo ajustes em “contratos”. Por que, então, esta discriminação aos trabalhadores? Para o capital tudo, para o trabalho o mínimo do mínimo!

“Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”

O governo Dilma Rousseff, que se mantém enclausurado no Palácio do Planalto, venceu fácil o seu primeiro teste no parlamento. Alguns líderes governistas, que já esqueceram a sua origem nas lutas dos trabalhadores, devem ter comemorado um bocado na madrugada. A pergunta que fica é qual será o preço desta vitória? Ao final da votação, alguns sindicalistas cantaram nas galerias do Congresso Nacional: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.

O sindicalismo teve um papel decisivo na eleição de Dilma Rousseff no final do ano passado. O demotucano José Serra sentiu a sua pegada e até voltou a usar o refrão golpista da “república sindical”. O sindicalismo não se alia com a oposição de direita, não quer o retrocesso, mas também não pode ficar passivo diante de posturas insensíveis do atual governo. Ele suou a camisa na campanha eleitoral para garantir o avanço das mudanças iniciadas por Lula e não a mesmice tecnocrática, tão servil ao “deus-mercado”.

Por Altamiro Borges, publicado em seu Blog

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