Que o WikiLeaks mudou a forma de entendermos o sistema de informação mundial, já é algo lógico. Mas compreender como essa mudança está se dando e que cultura gerou esse tipo de experiência são questões que precisamos discutir para entender o novo processo. A professora Ivana Bentes é a entrevistada de hoje pela IHU On-Line sobre o tema. Por telefone, ela falou sobre a ciberguerra que as revelações trazidas a público pelo WikiLeaks provocaram e as possibilidades que a inserção da cultura digital no processo de educação das crianças e jovens pode trazer para o campo da comunicação. "Eu fico feliz que, neste primeiro momento, nós estamos tendo sinais de que o governo brasileiro entendeu que essas políticas de inclusão digital são decisivas para pensar no Brasil 2.0 e que isso é importantíssimo para a democracia brasileira. Não é uma questão de consumo simplesmente, de inserção da classe C ou de novos grupos sociais no consumo de internet, isso é decisivo para a construção de uma nova democracia participativa", disse. Ivana Bentes é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde fez o mestrado e o doutorado em Comunicação e, atualmente, é professora e Diretora da Escola de Comunicação da UFRJ. *** A questão do anonimato é um conceito muito importante É uma ciberguerra o que o WikiLeaks provocou com suas revelações? Ivana Bentes – Sem dúvida. Mas não seria a primeira porque a guerra da informação já existe há muito tempo, inclusive como dado de estratégia e de poder. No entanto, com essa dimensão e repercussão, sem dúvida nós podemos qualificar como um primeiro momento de uma ciberguerra no sentido global. Na verdade, todas as informações que estão reveladas e veiculadas colocam em questão a própria ideia de uma certa geopolítica global. Neste sentido, em relação à amplitude da própria ideia de governança global, o tipo de prática de explicitação de documentos vai totalmente contra a ideia de teoria do segredo, do segredo de estado, empresarial e da conspiração de poucos contra muitos. Por isso, o WikiLeaks é um fenômeno, uma experiência muito paradigmática de um outro modelo de relação de todo mundo com a informação. Acredito que coloca muitos conceitos e muitas relações em xeque. Podemos falar de infoguerra ou guerra da informação (um conceito que já existia) a partir do uso do ciberespaço e da ideia do anonimato, em função de uma possibilidade de proliferação infinita destas informações nos provedores e usuários do mundo inteiro. Sem dúvida, nesta escala podemos dizer que é a primeira infoguerra global. Como você analisa a forma de "trabalho" do WikiLeaks? I.B. – É um modelo da nova relação que estamos tendo com a informação. Colocamos uma série de conceitos em questão. O primeiro conceito é em relação a essa ideia do direito ao anonimato. Ou seja, no momento em que as informações dizem respeito a decisões de vida e morte de populações, elas mobilizam e interferem na geopolítica global, na vida de países, de cada um de nós, de comunidades. A questão do direito à informação é maior do que qualquer outro tipo de segredo. Trabalhar com a ideia da disponibilização de forma anônima de documentos que estavam fora do círculo da informação e eram considerados secretos e estratégicos é um conceito muito importante. Como apenas o governamental ou o setor empresarial tinha acesso a esses dados, quando a informação é propagada se cria um conceito forte da ideia de que o público comum está acima das estratégias, inclusive de segurança dos países. Assim, trabalhar com a questão do anonimato é ainda um conceito muito importante de quem analisa as questões ligadas às mídias digitais. Não existe informação que não seja passível de ser publicizada O anonimato na web I.B. – A questão do anonimato não significa você fazer qualquer coisa, sem se importar com o motivo pelo qual está fazendo aquilo. O anonimato utiliza essa questão da preservação da fonte, inclusive de quem posta e de onde vieram esses documentos, para podermos tornar público informações que não sendo desta forma não chegariam a todo mundo. Aliás, essa prática não é nova: a imprensa tradicional utilizava a preservação da fonte quando a informação que vai ser veiculada é mais importante do que a própria credibilidade da fonte. Portanto, esses documentos em si, as informações que eles trazem em termos de democracia, em termos de violação dos direitos humanos, em termos de governanças e operações grandes sobre a saúde global são mais importantes do que a forma tradicional do jornalismo indicar o que é off e o que não é off. O primeiro conceito que o WikiLeaks quebra é a ideia de que não existe mais off. Não existe informação secreta, não existe a teoria do segredo, isso é decisivo para se pensar um novo modelo de democracia baseado na transparência. Parece-me que essa é a questão de fundo: o WikiLeaks traz, de uma forma muito forte, que já não existe informação que não seja passível de ser publicizada e isso é muito radical. Precisamos de um entendimento tanto do senso comum quanto do conceito de democracia, pois isso é uma radicalização da democracia, não existe segredo de Estado; não existe segredo que não possa ser revelado em prol de um conhecimento da própria sociedade. Os jornalistas tradicionais não transgrediram as regras dos governos Quem é dono da informação? I.B. – A questão do anonimato me parece ser uma questão importante, decisiva. A questão do site que pode ser espelhado, pode ser multiplicado, que tem parceiros e centenas de voluntários no mundo inteiro. Quem produz a informação? Quem divulga? Quem faz a informação circular? Não é uma corporação, não é o New York Times, não é a Rede Globo de Televisão. É uma multidão que está produzindo e difundindo essa informação. Esse seria um outro ponto: a questão da produção colaborativa, descentralizada, global da informação fora de uma corporação jornalística, fora de uma agência de notícias, fora da produção da mídia estatal ou privada. Esse é um momento muito importante. As informações mais cruciais sobre a guerra do Afeganistão, sobre o Iraque, sobre relações de direitos humanos, sobre conspirações contra democracias, golpes de Estado estão sendo veiculados de uma forma colaborativa, descentralizada e anônima. Esse é o pilar de uma nova forma muito radical de nós pensarmos a nossa relação com o campo da informação e comunicação pós-mídias sociais. Não se pode barrar essa informação, não há como barrar a circulação da informação mesmo que ela seja considerada estratégica pelos governos. Esses pilares iniciais que colocam um pouco de ponta cabeça esse conceito da livre circulação da informação, que já existia, mas não era praticado, e talvez as ferramentas para que ele pudesse ser feito de forma global estão surgindo agora pós-internet. Temos uma ferramenta que consegue sustentar essa prática radical de livre circulação da informação, mesmo que acarrete altos custos para quem está envolvido nela. Neste sentido, basta ver a retaliação que Julian Assange vem sofrendo. Ele pode ser considerado o primeiro preso político dessa nova era da guerra da informação, pois foi perseguido, procurado e preso. Teve seu site boicotado por corporações, teve as formas de captação de recursos através de doação pelo PayPal também interrompidas, assim como por empresas como a MasterCard e Visa, ou seja, é uma reação muito violenta por parte de governos e corporações diante de uma experiência de comunicação também muito radical. O que o WikiLeaks pode representar para as ciências da comunicação? I.B. – É um modelo do jornalismo baseado na declaração, em uma determinada fonte, em um especialista, também é colocado em xeque. O wikiLeaks não é um site jornalístico, é um site de rastreamento e divulgação de informações de fontes primárias, uma coisa que o jornalismo tradicional nunca fez, que é disponibilizar a fonte primária. O jornalismo tradicional sempre trabalhou com a ideia da mediação. O que o jornal só divulga o que decide publicar, além de editar o material a ser propagado. Só muito recentemente que passamos a disponibilizar entrevistas de forma integral. Nessas últimas eleições, vimos essas edições serem feitas quando um determinado político dava uma declaração e a frase era utilizada contra ele. Vimos isso na Veja e no jornal O Globo, por exemplo. Claro que no caso do WikiLeaks esses documentos brutos precisam ser analisados, interpretados. Algumas informações não podem ser analisadas por qualquer um. Elas precisam da mediação, da análise, da interpretação. O que estamos discutindo aqui é muito menos o conteúdo, mas sim o processo. Um processo novo de disponibilização de documentos, de informações, de imagens, estatísticas, que eram restritas, que eram consideradas segredo de Estado, segredo de corporação, segredo jornalístico. A primeira questão que me pareceu muito forte quando o WikiLeaks começou a abrir sua caixa de revelações é exatamente essa estratégia da distribuição das informações. Mas por que os jornalistas não fizeram isso antes? Porque os jornalistas tradicionais, inclusive podendo preservar fontes, não transgrediram as regras dos governos. Foi por isso que o Assange foi considerado inimigo público número um em alguns países e perseguido dessa maneira. A originalidade é a forma com que a informação é compartilhada Vazar ou não vazar? Eis a questão. I.B. – Então, por que o jornalismo tradicional não deu esse passo em frente? Jornalistas já tiveram acesso a documentos secretos de vinculação restrita, mas por que não vazaram? Por que não publicaram? Na verdade, sempre vimos isso acontecer de forma muito parcial. Por exemplo, na campanha da Dilma quando trouxeram a tona os dados dos serviços secretos de informação da época da ditadura, sua ficha policial... Quando interessa à corporação divulgar determinadas informações sigilosas, elas aparecem nos jornais preservando as fontes, muitas vezes com uso muito parcial, muito de interesse explícito e nunca de uma forma mais ampla no interesse público. Claro que é decisivo termos acesso a esse tipo de informação porque ela mostra a forma de pensar, seja do Império, do governo ou de determinadas corporações. É importante entendermos como funciona exatamente o pensamento destes governos, destas corporações, destes veículos de comunicação, é uma espécie de explicitação do pensamento que rege essas instituições, isso é importantíssimo. A publicação da informação, da contrainformação, cria uma nova camada de transparência em relação ao compartilhamento do conhecimento das informações sobre a sociedade como um todo. Precisamos conhecer a visão de quem está operando nos governos, nos exércitos, nas empresas. A questão da liberdade da circulação da informação é decisiva para que possamos equilibrar os poderes em uma democracia, saber o que meu inimigo pensa sobre mim para atuar. Podemos dizer que o WikiLeaks levantou a bandeira da liberdade de expressão? I.B. – Não, essa bandeira existe já há muito tempo. Sem dúvidas ele radicaliza essa batalha em torno da liberdade de expressão, de acesso pleno a documentos sigilosos dos governos, da diplomacia norte-americana sobre o Brasil, sobre os processos no mundo inteiro. A originalidade é a forma com que a informação é compartilhada e feita por uma multidão de agentes no mundo inteiro e não por especialistas. A forma me parece original, mas a luta é uma luta antiga. Há sonegação de dados importantes Até a ocupação do Morro do Alemão foi citada em documentos revelados pelo WikiLeaks. O que isso representa? I.B. – O que eu tive acesso, não sei se foi pelo WikiLeaks ou instituições ligadas à questão dos direitos humanos, era exatamente toda uma pergunta pelos dados, quantas pessoas morreram, quem morreu, policiais, traficantes, pessoas inocentes. Afinal, para onde foram os traficantes todos, se eles foram mortos ao longo das matas que cercam os bairros? Onde estão os corpos? Sem dúvida, todo mundo que acompanhou a operação fez esse tipo de pergunta e a imprensa foi muito econômica em relação às forças todas que estavam envolvidas na ocupação. Por mais legítimas que sejam as forças, a imprensa ocultou algumas questões, como, por exemplo, a violação das casas. Também soubemos, de forma espaçada, que aconteceram roubos por parte dos policiais. E onde estão esses dados? Quais são os dados confiáveis? Em uma operação como essa, não basta termos acesso às imagens midiáticas selecionadas ou imagens que interessam tanto ao governo, quanto as mídias e às forças que estão de forma muito bem intencionada empenhadas no processo de ocupação do território. A operação tinha propostas e questões muito importantes. Inclusive esse deslocamento do massacre de bandidos ou de inocentes em nome do combate ao tráfico de drogas, houve uma mudança desta mentalidade. Claramente, vimos uma mudança de pensamento em relação à forma de se tratar a questão das favelas no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, arbitrariedades de relações foram cometidas, mas onde estão esses dados? Eles não vêm a público em nome de um discurso de sucesso de vitória da operação? Há sonegação de dados importantes e seria importante termos acesso para inclusive combater, sofisticar, sair do discurso do massacre, da repressão, para criar de novo estratégias em questão da segurança pública. É preciso deixar de lado as velhas práticas, da violação do estado de exceção que vigora ainda nas favelas do Brasil inteiro, e no Rio de Janeiro em especial. Imagina se a Voz da Comunidade pudesse ser multiplicada Aliás, o movimento feito através da internet por moradores das favelas ocupadas chamou bastante atenção. Como a senhora vê esse tipo de apropriação da web? I.B. – Teve um momento muito bacana. Existe uma possibilidade muito grande do uso da informação que é dada pelo próprio morador da favela, da comunidade ou do território de guerra. Aquilo é decisivo porque passa pelo bloqueio da censura, passa o bloqueio do sigilo, da ideia da informação privilegiada ou que não pode vazar para a sociedade. Vimos isso em vários momentos das guerras contemporâneas, nas guerras em torno dessa questão da apropriação tecnológica e da rede. No caso do Rio de Janeiro, ainda foi muito incipiente a experiência da Voz da Comunidade. Eram meninos de 10 a 17 anos, em casa, mandando algumas informações via Twitter sobre o que estava acontecendo durante a ocupação do morro pela polícia. Era muito mais uma experiência quase que subjetiva do que estava acontecendo. Eles diziam que estavam com medo, que acabava a luz, que escutavam tiros. Eles me comoveram muito mais pela transmissão de uma experiência que muitas vezes nós não conseguimos lidar. Comoveu-me por se tratar de meninos, de crianças, enfim, lidando com essa potencialidade de compartilhar esse tipo de experiência. Eles estavam ali reféns de uma ocupação legítima, mas sofrendo todo um impacto subjetivo, violento, radical em uma zona de guerra. No caso do Complexo do Alemão, para mim foi muito mais isso. Porque, na verdade, o que os meninos estavam transmitindo, muitas vezes, eram informações que eles estavam vendo da TV ou da janela de casa, o que é muito restrito. E depois, quando começaram a andar, a sair de casa, davam pequenas informações. Foi, portanto, muito mais um gesto simbólico da potencialidade que se tem efetivamente com as redes sociais. Imagina se não fossem cinco, mas se cada casa e barraco na favela tivesse hoje acesso a uma banda de internet, wireless, ou tendo uma lan house segura e pudessem estar, de forma multiplicada, compartilhando essas experiências muito radicais, subjetivas, singulares que não passaram na mídia. Essas experiências apontam o entendimento novo de sociedade O novo governo comentou sobre a intenção de distribuir iPads para os estudantes. Como você vê esse tipo de projeto no Brasil? I.B. – Acho extraordinário. O ministro das Comunicações, que é o Paulo Bernardo, representa uma virada grande no Ministério das Comunicações. Sai Hélio Costa, que barrou muitas discussões, como a mudança da lei geral das comunicações, e entra Bernardo, que está no Twitter. É um prazer você acordar e poder fazer uma pergunta ao Ministro das Comunicações, que está no Twitter e que responde e dialoga e que está em uma relação proximidade com quem apostou nesse governo. Até mesmo com quem não apostou, mas quer contrapor, criticar, cobrar. Então, é uma mudança enorme da relação da própria ideia de governança, da cogestão do ministério. O Bernardo anunciou a questão dos laptops nas escolas para os estudantes e isso me parece ser decisivo, pois são esses meninos que vão fazer a revolução da informação no Brasil e já estão fazendo. Foram garotos de 10 a 17 anos que compartilharam a experiência da ocupação do Alemão com o mundo todo, foram entrevistados pela CNN, aparecem no Fantástico, foram incorporados pela grande mídia como fonte de informação. É, portanto, um momento importante de passagem, da universalização das ferramentas. Um laptop dentro da escola que o garoto possa levar para casa faz toda diferença. Já não existe mais fronteira entre quem forma, pois a sociedade toda forma. A experiência uruguaia I.B. – Eu vi em Montevidéu aquele computador de cem dólares. Coisa mais linda, as crianças na calçada com computador de plástico, verde, bonito, todo amigável, usando fora da escola. Na verdade, isso é instrumentalizar para o mundo WikiLeaks, para essa radicalização de quem produz a informação, de quem tem uma experiência de compartilhar essa informação com o mundo todo. Eu acho decisivo, desde que não seja de uso exclusivo escolar, tem que ser para vida, tem que distribuir computador com internet de graça para cada brasileiro. Neste momento, é decisivo para quem está na escola. Acho maravilhoso isso, uma política pública importante. Outra questão que o Bernardo anunciou é formar, dentro do Ministério, uma Secretaria da Inclusão Digital, que acredito que possa evoluir para uma secretaria das políticas públicas no campo da cultura digital. Não é só uma questão da inclusão digital, de mediar, não é só dar o computador: é a cultura WikiLeaks, é a cultura digital, a cultura do compartilhamento, da transparência, da governança, da cogestão. É muito bacana, nesse sentido, o Brasil estar antenado, pois é muito ávido pela comunicação, pelo compartilhamento. Essa atitude está muito próxima do comportamento brasileiro em compartilhar cotidianamente suas experiências. Está aí o sucesso das redes sociais no Brasil. São experiências que apontam para essa possibilidade do uso dessas ferramentas para a constituição de políticas públicas novas, do entendimento novo de sociedade. Temos que não só esperar por mudanças, mas radicalizar essas mudanças Cultura digital na favela I.B. – Essas palavras que parecem abstratas, muito longínquas, para um futuro muito distante. Começam aí, quando se entrega um computador com internet para o menino da favela. Neste ponto, começa uma mudança efetivamente radical. A Dilma falou muito da questão do plano de banda larga, o ministro Bernardo já chamou as operadoras de telefonia, os parceiros públicos e privados para colocar essa disputa, que não é uma disputa de política pública, mas mercado econômico, que vale muito e que é importante que esteja abaixo de uma política pública e não de um interesse comercial. Eu fico feliz que, neste primeiro momento, estamos tendo sinais de que o governo brasileiro entendeu que essas políticas de inclusão digital são decisivas para pensar no Brasil 2.0 e que isso é importantíssimo para a democracia brasileira. Não é uma questão de consumo simplesmente, de inserção da classe C ou de novos grupos sociais no consumo de internet: isso é decisivo para a construção de uma nova democracia participativa. Claro que depende de muita mobilização, de ativismo, depende da construção de conceito de discurso, porque isso não é óbvio, basta a gente ver a demonização que está sendo feita pela grande mídia em relação ao WikiLeaks. Voltando ao WikiLeaks. E como fica a política depois do WikiLeaks? I.B. – O WikiLeaks é o prenúncio de uma necessidade de uma governança global, é um prenúncio do que chamamos de democracia participativa global, de uma articulação, de uma sociedade civil transnacional, de facilitar o compartilhamento de conhecimentos, bens culturais, opiniões dessa forma transnacional. Até que ponto as instituições e os poderes podem estar acima da ideia de liberdade de comunicação, informação e expressão? A própria ideia das alianças, com quem os governos se relacionam em termos de poderes, o mapa dos poderes. Quando o mapa dos poderes fica explicitado através dessas informações sigilosas, começamos a traçar novos mapas. A relação dos Estados Unidos com alguns países da Europa, da América, da Ásia, da Oceania, da África que são os seus satélites informacionais, você vê que tem uma rede de informações, de relações de poder, ou seja, de geopolíticas que ficam claras na forma como essas informações aparecem. Isso tudo, de certa maneira, reforça os movimentos que já apontam em relação a esse tipo de comunicação. Na política muda tudo, mas tudo depende de mudanças locais, de mudanças em cada um desses países, da construção de uma articulação de sociedade civil transnacional. Então, depende de uma série de outros movimentos. Não podemos esperar mudanças rápidas. Claro que o WikiLeaks foi um choque global dentro da relação de se lidar com a informação. Isso produz mudanças, mas essas mudanças ainda estão sendo digeridas, entendidas, analisadas em cada país, pelos governos e pela própria sociedade civil. Talvez de novos entendimentos do que é essa sociedade civil transnacional que está se articulando através de formas novas como o próprio WikiLeaks e outros bancos de dados globais sejam construídas. Mas, sem dúvida, que essa relação de liberdade, transparência, democracia, o equilíbrio entre esses conceitos, esses campos, se alteram. O WikiLeaks produziu um grande desequilíbrio, uma crise no que se considerava dado em termos da gestão da própria informação. Nós temos que não só esperar por mudanças, mas radicalizar essas mudanças e entender o que nesse acontecimento todo desses documentos vazados nos interessam, interessam para o nosso ativismo, interessam para trabalharmos com essas ideias que são mais amplas e que vão sendo construídas em longo prazo. Por IHU Online Observatório da Imprensa
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