BERNADETT SZABO/Reuters Manifestante segura cartaz de apoio a Julian Assange, em frente à embaixada britânica em Budapeste |
A crise institucional internacional provocada pela maciça publicação de documentos secretos dos Estados Unidos no WikiLeaks destaca a questão dos vazamentos de informações organizacionais. Autoridades incomodadas pelas revelações contidas nos papéis, rapidamente tentaram desqualificar a ação de exposição global de suas más entranhas, denominando-as de vazamento de informações ilegal. Um posicionamento retórico e grupal que nos lembra a atualidade da afirmação do irreverente jornalista norte-americano Henry Louis Mencken (1880-1956) sobre o que são os governos. Mencken afirma em seu O livro dos insultos:
"O homem médio, sejam quais forem os seus erros em outros departamentos, pelo menos sabe que o governo é alguma coisa fora dele e da generalidade de seus semelhantes - que é um poder separado, independente e quase sempre hostil, só parcialmente sob o seu controle e capaz de causar-lhe grandes prejuízos". Em resumo, políticos e governos fazem parte de uma corporação de ofício, independentemente de suas ideologias. Obama tinha a reputação de saber usar bem a internet e respeitar as chamadas redes sociais.
Sarah Palin, ex-candidata republicana à vice-presidência, colocou em sua mira inculta o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, igualando-o a Osama Bin Laden. Um juiz sueco, em má hora, provocou a prisão de Assange, em Londres, a partir de denúncias, nas quais é acusado de cometer dois crimes sexuais. Bancos nos quais o WikiLeaks depositava os seus recursos e provedores que viabilizavam a sua existência técnica derrubaram o site. As ações de ira contra o WikiLeaks e seu fundador, orientadas por relações não-públicas, propaganda e lobby que bebem os seus conceitos na finada Guerra Fria, não enfraqueceram o cerne das denúncias trazidas pelos documentos: as relações internacionais norte-americanas estão contaminadas por ações ilegais e ilegítimas. E, também, por não saberem zelar pelos segredos de Estado são incompetentes.
Moveholders e stakeholders: o novo social
A imprensa tradicional e a nova imprensa filha do mundo digital divulgam informações boas ou ruins à sociedade por meio de inúmeras fontes. As razões que produzem vazamentos de informações e as crises são coisas como interesses contrariados, inveja, ciúmes, ressentimentos, busca por notoriedade, desejo de se fazer justiça, acerto de contas, "sexo, drogas e rock and roll" e venda de informações. A essa lista inesgotável e nem sempre legal e legítima de motivações somam-se, em época de net-ativismo, demandas de gênero, etárias, étnicas, culturais, defesas da diversidade, biodiversidade, dos direitos humanos, direitos dos animais, além da sustentabilidade, em todas em seus aspectos. No Brasil, entre as ações positivas da ação da cidadania digital está a mobilização e aprovação da lei da Ficha Limpa, que impediu a candidatura e a posse de políticos corruptos. E no mundo, destaca-se a mobilização contra a decisão que condenou à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani. O novo social é formado por moveholders, as partes interessadas que se agrupam em redes sociais, blogs, flash mobs, entre formas de comunicação digital e híbridas (digitais e analógicas), e que não são apreendidas pelas velhas segmentações de relações públicas, como as dos stakeholders, conceito definido por R.Edward Freeman, no século passado.
A imprensa tradicional e analógica ensinou para a imprensa net-ativista que deve se publicar o que é notícia. As referências e a prática jornalística afirmam que notícia é o "relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade, e capaz de ser compreendida pelo público" (Dicionário de Comunicação, de Barbosa e Rabaça, 2001, p.513). As informações que chegaram ao mundo pela ação net-ativista de Julian Assange amplificada com apoio de jornais como o The New York Times e o Guardian, está ancorada em inúmeras definições de notícia, como a citada, e no destaque do jornalista Sidnei Basile dá em seu livro Elementos de Jornalismo Econômico (2002, p.22), que lembra que o Instituto dos Repórteres Investigativos, dos Estados Unidos, recomenda aos jornalistas que sigam três regras saudáveis: "Siga o dinheiro; siga os papéis: siga as pessoas.".
Assange recebeu os papéis divulgados no WikiLeaks de fontes integrantes do governo dos Estados Unidos. Ele não roubou os documentos. Os crimes dos quais poderia ser acusado são os de injúria, calúnia e difamação. As organizações, que tiram a liberdade de Assenge e sufocam economicamente e tecnologicamente o WikiLeaks, estão cometendo o crime de censura e cerceamento à liberdade de expressão, contra toda a cidadania global. Liberdade para Julian Assange e para o WikiLeaks!
Terra Magazine: Paulo Nassar de São Paulo (SP)
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