Carioca muda de opinião e agora acredita na segurança.
Dois anos depois do início da implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) no Rio de Janeiro o carioca mudou completamente de opinião quanto à segurança na cidade. Em 2006, no início do governo Sérgio Cabral, 99% das pessoas entrevistadas numa pesquisa feita pela Macroplan e pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) diziam que as perspectivas para a segurança nos próximos anos seriam ruins ou muito ruins. Este ano, a pesquisa, batizada de Barômetro do Rio, está sendo refeita e apenas 18% têm a mesma percepção.
Naquela época, a população carioca não via com bom olhos a integração entre os governos federal, estadual e municipal. Numa cidade conhecida por ser sempre de oposição, 95% considerava esse tipo de acordo entre os três poderes ruim ou muito ruim. Depois do forte apoio do governo Lula ao governo Cabral, que resultou em investimentos maciços nos programas do PAC no Estado, a população também mudou de ideia e agora 75% das pessoas acreditam que a união entre as três esferas de poder é boa ou muito boa.
A melhora da expectativa quanto à segurança começa a fazer o carioca se preocupar mais com outros problemas crônicos da cidade, como infraestrutura e mobilidade. Em 2006, já havia certa preocupação com o tema: 82% dos entrevistados tinham uma percepção negativa do problema. Mas ele ficava em segundo lugar na lista de prioridades, batido de longe pela segurança. Agora, o tema passou a ser o mais mal avaliado, com 86%. O mesmo aconteceu com educação. O tema passou de 51% dos entrevistados com percepção negativa para 65%.
A primeira pesquisa realizada em 2006 com 2.500 pessoas foi entregue ao governador Sérgio Cabral (PMDB). Agora, os institutos voltaram a campo ainda em fase inicial. Em novembro foram entrevistadas 400 pessoas.
Para Glauco Neves, diretor da Macroplan, o resultado parcial da pesquisa mostra que é preciso aproveitar a mudança em relação à expectativa. "O Rio vive um momento único, que deve ser aproveitado pelo Estado para montar uma estratégia e colocar a cidade num rumo sem retorno de crescimento e melhoria da qualidade de vida de toda a população", sugere. André Urani, diretor-executivo do Iets conta que não é só o Brasil que está olhando para a cidade, mas o mundo. "Em Harvard, há vários professores que estão planejando vir para o Rio para participar deste momento, para realizar projetos aqui", conta Urani.
Glauco Neves ainda relembra que a retomada das comunidades do poder do tráfico se dará junto com um momento econômico muito bom para o Rio. "Só a Petrobras vai investir R$ 220 bilhões, sem falar em Copa do Mundo e Olimpíada. Vamos precisar de mão de obra, de treinamento, de trabalhadores qualificados", diz.
Os dois propõem que os órgãos federais, junto com a iniciativa privada, montem um plano estratégico único para desenvolver a cidade. "Há iniciativas isoladas, a prefeitura tem seu plano, criou um bolsa-família carioca. O Cabral [governador Sérgio Cabral] quer que todos os prefeitos da região metropolitana façam o mesmo, mas não há uma pessoa que coordene essas ações", critica Urani.
O diretor-executivo do Iets conta que o exemplo mais citado de legado de Olimpíada para uma cidade, Barcelona, teve um plano estratégico que ultrapassou as fronteiras do evento e tinha previsão até 2025. "Eles uniram a localização do porto, do aeroporto e da ferrovia, para transformar a cidade num centro de transportes mundial. O subúrbio de Barcelona não foi beneficiado na época da Olimpíada, mas agora está sendo", diz Urani, ao acrescentar que o projeto do Rio tem de ser de longo prazo.
"No Iets ou na Macroplan não podemos organizar, mas o objetivo é sugerir que o governo aproveite essa oportunidade única e crie um plano estratégico para mais 20 anos, até 2030, por exemplo. Que ultrapasse vários mandatos. E a gente vai dar de presente os subsídios", conclui.Valor Ecônomico
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